São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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Os erros da Folha

Duas notícias boas a respeito da Folha: ela está corrigindo mais os seus erros de informação e vem fazendo isso com mais rapidez. A comparação entre o primeiro semestre deste ano com o do ano passado mostra um crescimento de 4% dos erros corrigidos. Foram 555 e agora chegaram a 576. Uma média de 96 correções por mês, três por dia.
Não é bom que a Folha erre mais, mas é ótimo que aumente o número de erros corrigidos. É certo que comete mais erros do que esses que corrige, mas a disposição de reconhecê-los é sinal de respeito ao leitor e às fontes.
Não basta, porém, reconhecer os erros. É necessário que sejam corrigidos o mais rapidamente possível para que as suas conseqüências sejam minimizadas.
No primeiro semestre do ano passado, o jornal levou uma média de nove dias para editar a correção. Houve um esforço para diminuir essa marca no segundo semestre, tanto que a média de 2004 caiu para oito dias, como registrei em 2 de janeiro. No primeiro semestre, o índice caiu ainda mais, para sete dias.
Mas ainda é muito tempo. Existem editorias diárias que levam em média 12 dias para reconhecer uma incorreção. É o caso de Cotidiano. A editoria baixou drasticamente as correções (de 93 para 75) e aumentou o tempo que leva para publicá-las.
A capa do jornal, a parte mais nobre da edição, corrige um erro por semana e leva uma média de três dias para reconhecê-lo.

Papa e "mensalão"
Para ilustrar os tipos de erro detectados pela Folha no primeiro semestre escolhi dois temas.
O primeiro foi a agonia, morte e substituição de João Paulo 2º. O jornal não tem uma cobertura sistemática de religiões nem conta com repórteres especializados no tema. Por isso, como provam os erros cometidos, conhece pouco a Igreja Católica.
Contei 29 erros relativos ao catolicismo e à igreja, 24 dos quais cometidos ao longo da cobertura do papa. Um foi realmente grave e não tem a ver com conhecimento especializado: o jornal informou, na manchete de sua primeira página de 2 de abril, que "João Paulo 2º piora e perde consciência", quando ele não havia perdido a consciência. O erro foi corrigido no dia seguinte.
Uma boa parte das correções (dez) se referiram a idades e funções erradas de cardeais. Mas o jornal também cometeu erros relativos aos termos próprios da igreja e a detalhes de seus ritos. Também na primeira página denominou consistório, que é a reunião de cardeais presidida pelo papa, o conclave que elegeria o novo pontífice.
Outro foco de erros encontrei na cobertura do "mensalão". Contei 28 correções, nove das quais de partidos ou de funções de deputados e senadores.
No depoimento que prestou na quinta-feira, o deputado Roberto Jefferson ironizou um veículo que, erroneamente, chamara várias vezes o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho de diretor. A Folha cometeu o mesmo erro três vezes.
Pelo menos dois erros podem ser considerados graves: no dia 15, informou que as reuniões que ocorreriam na sala reservada no Palácio do Planalto a Sílvio Pereira tratavam do suposto "mensalão", quando na entrevista que dera à Folha o deputado Jefferson dissera que discutiam cargos no governo. E, no dia 26, uma reportagem afirmou que o presidente do Senado, Renan Calheiros, era citado em fita como suposto agenciador de propina, quando ele aparecia como amigo do político Antônio Pedreira.


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