São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

Texto Anterior | Índice

Conto do vigário

Reportagem do Folhateen de 7 de outubro contava o caso de um modelo brasileiro, Pedro Andrade, 23, que, após batalhar dois anos em Nova York, acabara de gravar, como protagonista, um novo filme do célebre diretor americano David Lynch.
O texto dava detalhes sobre o filme, a filmagem, suas bizarrices. Andrade era pintado como futuro astro.
Ao final, a reportagem dizia que, se pudesse escolher outro diretor para trabalhar, o jovem gostaria de Walter Salles, Almodóvar ou Woody Allen, e encerrava-se com uma pergunta: "alguém duvida?".
Pois era o caso de duvidar, e muito.
A história contada pelo modelo, amparado por uma assessoria de imprensa no Brasil, não passava de uma farsa.
Como relatou o mesmo caderno no último dia 21, não havia filme algum, Andrade nunca estivera com Lynch etc.
Por que o jornal -e não foi o único veículo da imprensa brasileira a fazê-lo, cabe registrar- caiu nesse engodo?
Porque descumpriu um princípio básico: checar informações, cruzar dados de suas fontes.
O editor do Folhateen, Cássio Starling Carlos, admite o "erro primário" e diz, taxativo:
"A situação gerada, apesar de constrangedora, ajuda a servir de lição. Ela demonstra a indisfarçável servidão voluntária do jornalismo às assessorias de imprensa que servem ao círculo do marketing pessoal. Em vez de informar e, sobretudo, auxiliar na formação do gosto, o jornalismo cultural foi convertido (graças a nós, jornalistas) em peça-chave da cultura do fuxico".



Texto Anterior: Lula e a Globo
Índice


Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor -recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.