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E o presidenciável
O segundo assunto da semana
foi a entrevista com o prefeito José Serra publicada em página dupla, na mesma edição de domingo passado, com os títulos "Lula
se tornou menor que a crise, diz
Serra" e "Governo do PT acabou
sem ter começado".
Neste caso, a reação de leitores
foi diferente do comportamento
que tiveram em relação às fotos
de Fernanda Karina. A entrevista
reavivou as críticas dos que
acham que o jornal está contra o
governo do PT e tem simpatias
pelo PSDB.
O jornal tem o direito de entrevistar quem ele quiser e acho que
o prefeito de São Paulo merece
uma entrevista pelo papel que
representa na política nacional.
O que me incomodou foi o tom
do pingue-pongue. Por isso, fiz o
seguinte comentário na Crítica
Interna de segunda-feira:
"Acho mais do que apropriado
o jornal entrevistar o prefeito José Serra a respeito da crise, afinal
ele é um dos presidenciáveis e
aparece bem nas pesquisas eleitorais. Mas não considero apropriado o jornal não encaminhar
uma só pergunta crítica, um
questionamento sequer em relação à sua gestão na prefeitura ou
à administração do governo
FHC, a que serviu como ministro. O caso de Eduardo Azeredo,
presidente do PSDB, é apenas
mencionado, sem pergunta e
sem questionamento. São duas
páginas apenas com o intuito de
deixar José Serra analisar a crise
sem qualquer contraponto, sem
explorar as contradições. Também achei condescendente a entrevista com Ricardo Berzoini,
secretário-geral do PT ("Berzoini
culpa Delúbio e Genoino pela
crise'). O jornal não explora, por
exemplo, o papel de José Dirceu
no esquema e nem detalha as
acusações contra Lula. Nos dois
casos, de Serra e Berzoini, o jornal ligou o gravador e deixou que
falassem o que quisessem. Não
sei se isto está de acordo com o
jornalismo crítico e questionador que apregoa".
O leitor Cleiton Sotte, de São
Paulo, não teve papas na língua:
"Aliás, o que foi aquela entrevista chapa-branca com o José Serra?".
Na segunda-feira, o jornal fez
um editorial comentando as
idéias do prefeito, "A entrevista
de Serra". Serra foi descrito como um "analista arguto" que
"discorreu sobre a crise de um
ponto de vista alto o bastante para distanciá-lo da disputa política ordinária -mas não da evidência de que está atraído pela
perspectiva de disputar a Presidência". Mais: "Falou ao jornal
um político que, tendo se preparado para governar o país, foi
derrotado por um adversário cuja gestão, além das evidentes fragilidades políticas e administrativas, provou-se contaminada
por desvios e nociva ao fortalecimento da cultura republicana".
Poucas horas depois Cesar
Maia, o prefeito do Rio e também presidenciável pelo PFL,
inaugurou o seu blog com um
comentário sucinto: "Editorial
da FSP de 1/8/05 deixa claro que
a FSP já tem candidato: o prefeito José Serra". Esta é a impressão
que ficou para vários leitores.
Um dos grandes problemas da
cobertura jornalística da atual
crise provocada pelas acusações
de corrupção que envolvem o
governo e os partidos políticos é
que ela tem como pano de fundo
a eleição presidencial de 2006. O
equilíbrio editorial é difícil, mas
o jornal tem a obrigação de persegui-lo se não quiser ver sua imparcialidade questionada.
Não sei se a Redação programou novas entrevistas com os
outros presidenciáveis. Mas imagino que Anthony Garotinho,
Cesar Maia, Heloísa Helena e
Luiz Inácio Lula da Silva tenham
condições de fazer análises argutas sobre a crise se tiverem o
mesmo espaço concedido a José
Serra e forem submetidos às
mesmas perguntas.
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