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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Jornalistas vendedores (2)

Uma informação grave se espalhou pelas Redações e sites especializados no meio da semana: a suspensão, pelos jornais "O Globo" e "O Estado de S.Paulo", da coluna diária do jornalista Joelmir Beting.
O jornal do Rio deu o aviso a seus leitores na quarta-feira (3). O diário paulista, no dia seguinte. Motivo: Beting, um dos pioneiros e mais conhecidos jornalistas da área econômica do país, resolveu ser garoto-propaganda de um banco. Veja reproduções no quadro ao lado.
Em comunicado interno, reproduzido no site "Comunique-se", o diretor de Redação do "Globo", Rodolfo Fernandes, argumenta: "Sua decisão de passar a aceitar convites para fazer propaganda comercial não é compatível com a publicação da coluna e contraria as Normas de Conduta do jornal (...) são funções inconciliáveis uma coluna -especialmente, no caso, de economia- e a propaganda de serviços de um banco".
No mesmo site, Beting escreveu que nada no seu contrato o impede de "fazer publicidade comercial, propaganda política ou passeata de protesto". Para ele, desde que haja transparência, e não "merchandising jornalístico", não há erro na decisão.
Já comentei a questão aqui (25/5), a partir de um caso relativo a colunista da própria Folha.
O que está em jogo não são a ética individual ou as opções do jornalista Beting, mas sim o estado de suspeição, a exposição e a fragilização a que ele submete, mesmo sem querer, sua coluna e os veículos em que é publicada.
Todo leitor teria o direito de se perguntar, a partir do seu duplo casamento (publicidade e jornalismo), qual a real capacidade de isenção do colunista em relação a eventuais assuntos que venham a "cruzar" de alguma forma com os interesses da instituição cujos serviços ele ajuda a vender. O conflito está, por princípio, estabelecido.
Aqui, seja qual for a índole do protagonista, a credibilidade jornalística, mesmo sendo um valor subjetivo, fica automática e objetivamente comprometida.
Ainda mais num momento de crise das empresas de comunicação, em que são crescentes as pressões no sentido de se derrubar a tradicional e indispensável barreira entre publicidade e noticiário, a atitude do "Globo" e do "Estado" merece elogio.



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