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Jornalistas e jornalistas
Não está comprovada a participação do ex-assessor de imprensa do Ministério da Fazenda, Marcelo Netto, no vazamento do extrato bancário do caseiro Francenildo Costa. Mesmo
assim, seu advogado, Eduardo
Toledo, adiantou a defesa com
uma tese polêmica. Reproduzo
o relato da Folha, publicado na
quinta-feira.
"Em entrevista após a passagem de Netto na Polícia Federal,
Eduardo Toledo desenvolveu o
raciocínio segundo o qual jornalistas que exercem funções
públicas respondem também ao
código de ética da profissão. "O
Marcelo é um jornalista e jornalistas têm o dever de informar"."
Não sei se o ex-assessor participou ou não, e em que medida,
da conspiração contra o caseiro.
Mas é certo que o seu advogado,
ao tentar criar uma justificativa
ética para o caso de ele ter vazado a informação, além de indiretamente incriminá-lo, cometeu um equívoco e mexeu com
um vespeiro. Jornalistas de assessorias de imprensa não têm
os mesmos objetivos nem respondem aos mesmos princípios
dos que trabalham em meios de
comunicação.
Algumas questões. Um jornalista no cargo de assessor deve
agir em função dos interesses de
quem o contrata (seja empresa
privada, seja órgão público) ou
deve permanecer compromissado com a função de "divulgar
todos os fatos que sejam de interesse público" (Código de Ética
dos jornalistas), mesmo os que
não sejam do interesse de quem
assessora? Um assessor de ministério que tem acesso a informações estratégicas deve agir
como assessor e preservar a reserva ou deve agir como repórter e passar a informação
adiante? Há justificativa ética
para o vazamento de uma ilegalidade para proteger um ministro sob acusações?
Para colocar lenha nessa
fogueira, copio um trecho do livro "Sobre Ética e Imprensa"
(Companhia das Letras), do jornalista Eugênio Bucci, hoje na
presidência de um órgão federal, a Radiobrás.
"O assessor de imprensa é um
artífice e ao mesmo tempo um
divulgador da boa imagem daquele que o contrata. Na prática, não é jornalista. Jornalista é
estritamente o profissional encarregado de levar notícias ao
público, num serviço que atende, no fim da linha, o titular do
direito à informação e mais ninguém. O assessor de imprensa
-ainda que possa ter se formado numa faculdade de comunicações com habilitação em jornalismo, ainda que tenha anos
de experiência numa redação-
exerce tecnicamente um ofício
diferenciado. Ele não ganha para perguntar o que o público
tem o direito de saber, mas ganha para propagar aquilo que o
seu cliente (ou empregador) tem
interesse em difundir.
São duas ocupações igualmente dignas, nada de errado
com uma ou com a outra, mas
são duas ocupações diferentes.
Por vezes, opostas."
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