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REFLEXÃO
"Contar bem boas histórias"
O jornalista Clóvis Rossi trabalhava na revista "IstoÉ", em
1978, quando morreu o papa
João Paulo 1º. Tinha 15 anos
de profissão, já havia chefiado
a Redação do "Estado de
S.Paulo" e começava a acumular experiência em coberturas
internacionais, como o golpe
militar no Chile (1973) e a Revolução dos Cravos (1974), em
Portugal.
Rossi está em Roma desde o
dia 1º e são deles os principais
relatos que a Folha vem publicando desde a morte de João
Paulo 2º, no dia 2.
Pedi a ele uma reflexão sobre
o que mudou no jornalismo
brasileiro nesses 26 anos que
separam os anúncios das duas
mortes.
"A grande diferença entre o
jornalismo que noticiou a eleição de Karol Wojtyla e o que
anunciou a sua morte é o fato
de que a mídia impressa perdeu a sua grande identidade:
justamente a característica de
ser o "anunciador" de fatos.
Perder o que estava no DNA
dos jornalistas desde Gutembergue causa a desorientação
que todos sentimos hoje em
dia nas Redações. E, suspeito, é
um dos grandes fatores na formidável hemorragia de leitores de que sofre a mídia impressa (no mundo todo, porque a desorientação é global).
O drama é simples de expor:
continuamos presos à ditadura do "realizou-se ontem",
quando hoje a internet e as
TVs dão na véspera o que daremos muitíssimas horas depois.
No caso da morte do papa,
quem se sentiria atraído pelos
jornais cujos títulos tivessem
sido (como, suponho, foram):
"O papa morreu?". Cento e dez
por cento dos leitores já sabiam do "realizou-se ontem"
umas 12 horas antes de os jornais começarem a circular.
Constatado o problema, não
me pergunte a solução. Eu não
a tenho. Temo até que meus
palpites -e faço questão de
grifar palpites- sejam mais
problema do que solução. Mas
eu apostaria em um jornalismo que:
1 - Recuperasse a qualidade
do texto. Afinal, é a única característica que diferencia jornal de TV (e, de certo modo,
também da internet, que é
mais afobada e, portanto, menos preciosa no texto). Temos
que contar bem boas histórias,
levar o leitor pela mão para o
local dos fatos, com suas cores,
sabores, odores.
2 - Montasse o quebra-cabeças. Antes, a nossa função era
recolher as peças do quebra-cabeças e oferecê-las ao leitor.
Hoje, as peças estão disponíveis em outras mídias. Resta-nos a competência de montá-las de forma que faça sentido
para o leitor.
3 - Opinasse sobre a forma
que tomou o quebra-cabeça."
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