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OMBUDSMAN
De olho na Folha
MARCELO BERABA
A crise política provocada
pelas acusações de corrupção no governo federal e no Congresso -iniciada em maio, com
a reportagem da "Veja" sobre os
Correios, e expandida, no início
de junho, com a entrevista de
Roberto Jefferson para a Folha- provocou a maior enxurrada de mensagens que este ombudsman já recebeu nos 14 meses
de mandato.
Em junho do ano passado recebi 750 mensagens, a maior marca de um semestre que teve casos
de repercussão como o de Waldomiro Diniz e o artigo de Larry
Rother para o "New York Times". No mês passado, foram
1.082, um crescimento de 44%.
Nem todas as mensagens tratavam da cobertura política, embora esse tenha sido o assunto
principal. Houve, no semestre,
mais participação do leitor em
geral. Aumentou o número de e-mails com críticas (muitas), sugestões (algumas) e elogios (raros) para todas as editorias.
Além do noticiário quente, esse
crescimento deve ser atribuído à
facilidade de comunicação que a
internet proporciona.
No primeiro semestre do ano
passado foram enviadas 3.477
mensagens para o ombudsman;
no semestre que acaba de terminar foram 4.943, um crescimento
de 42%. O balanço semestral
mostra que o aumento foi contínuo, mês a mês, mas em junho
bateu, pela primeira vez desde
que assumi o cargo, a marca de
mil mensagens.
O leitor que procura o ombudsman está, em geral, insatisfeito
com o jornal. No caso da cobertura política, as queixas mais antigas e freqüentes vêm de leitores
que estão certos de que o jornal
protege o PSDB e está em campanha contra o PT. Esses são os dois
partidos que disputam o poder
nacionalmente e que têm como
principais arenas o Estado e a cidade de São Paulo. Os e-mails
que recebo refletem esse enfrentamento cada vez mais acirrado.
As queixas dos que acham o
jornal "anti-PT" ou "tucano"
são antigas e constantes. Com o
fim da campanha eleitoral para
a Prefeitura de São Paulo, as reclamações tinham se estabilizado em torno de 40 a 50 mensagens por mês dirigidas especificamente ao caderno Brasil. Em
maio, por exemplo, foram 44 comentários críticos, mas, em junho, eles saltaram para 177, uma
média de seis por dia.
Junho foi o mês do "mensalão". A reação à publicação da
entrevista com o deputado Roberto Jefferson, no dia 6 de junho, durou o mês inteiro. Para a
maioria desses leitores, o jornal
estava sendo "sensacionalista",
"parcial" e "manipulador", estava "prejulgando" os acusados
por Jefferson e participava de
uma "campanha golpista".
Muitos se identificaram como
petistas e disseram claramente
que não acreditavam nas informações que estavam sendo publicadas. Outros confessaram
que estavam perplexos, que esperavam que tudo fosse investigado, mas que achavam que a Folha exagerava ao dar crédito às
acusações de Jefferson.
As queixas de parcialidade
também atingiram, com menos
intensidade, a cobertura da administração de São Paulo editada em Cotidiano.
Em relação ao "mensalão",
também recebi, ao longo de junho, mensagens com sugestões
de pautas investigativas, que foram encaminhadas à Redação, e
15 comentários de leitores que
achavam que o jornal estava
empenhado em proteger o governo Lula das denúncias de corrupção.
Uma observação. As críticas à
cobertura do jornal diminuíram
muito neste início de julho, provavelmente em razão dos novos
fatos que atingiram em cheio a
cúpula do PT e debilitaram ainda mais o governo.
Fora da política, os assuntos
que mais provocaram queixas
ou comentários críticos dos leitores foram a inauguração da nova loja da Daslu, as reportagens
de Esporte sobre a parceria do
Corinthians com a MSI e sobre a
acusação de racismo que levou o
jogador argentino Sábato para a
prisão, a morte do papa João
Paulo 2º e a eleição do novo pontífice e, como sempre, a cobertura dos conflitos no Oriente Médio.
O balanço comparativo dos
primeiros semestres do ano passado e deste mostra uma participação crescente dos leitores na
correção de erros do jornal. Nos
primeiros seis meses do ano passado eles apontaram 249 erros;
agora, foram 459. Este crescimento se deve, entre outras razões, ao fato de que estão sendo
encaminhados para o ombudsman os erros da Folha apontados pelos leitores no serviço Folha Online.
"Painel do Leitor"
O outro canal de comunicação
com o jornal é o "Painel do Leitor". Diferentemente do que
ocorreu com o ombudsman, as
cartas diminuíram do primeiro
semestre do ano passado para o
primeiro deste ano. O "Painel do
Leitor" recebeu 16.065 mensagens em 2004 e, agora, 15.440.
O governo Lula é o campeão de
audiência (927 cartas), seguido
de perto pelo "mensalão" (920).
Distantes estão a eleição do deputado Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara e
outros assuntos relativos ao Congresso (534), bem como a morte
do papa João Paulo 2º (247).
O aproveitamento das cartas é
muito baixo e, neste ano, ainda
houve uma queda em relação ao
ano passado. No primeiro semestre de 2004, o jornal publicou
9,29% das mensagens que recebeu de leitores; neste ano, esse
número caiu para 8,46%.
Esse é um problema sério e o
jornal deveria buscar uma forma
de ampliar o "Painel", principal
espaço de manifestação do leitor.
Além do índice baixo de aproveitamento, uma boa parte das cartas publicadas são assinadas por
assessores de imprensa, políticos
e autoridades. O espaço que resta
para as reflexões dos leitores está
cada vez mais restrito.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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