São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2006

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outra visão

"Trabalho investigativo "

No caso da Escola Base, todos os jornais, exceto o então "Diário Popular", deram ampla publicidade às acusações da polícia e um tratamento no geral sensacionalista. O "Diário Popular" teve a informação em primeira mão e decidiu não publicá-la por entender que a história estava mal contada e incompleta. Acertou.
No caso Daniele, um jornal deu o caso com muito destaque, com foto e identificação da mãe -por coincidência, o mesmo "Diário", agora "de S. Paulo". Errou, na minha avaliação. Não é o entendimento, no entanto, de Bruno Thys, diretor de Redação do jornal. Seus comentários:
 
"O mérito do Diário foi ter feito um trabalho investigativo, que resultou na descoberta de um erro absurdo. O nome da mãe não foi omitido porque havia flagrante, prova técnica e testemunha. Por ordem: a suspeita foi presa com base num laudo atestando que o pó branco era cocaína, e o secretário da Saúde de Taubaté, Pedro Silveira, afirmou que a criança tinha o cérebro corroído pela droga. Daniele foi denunciada pelo promotor João Carlos Maia por homicídio duplamente qualificado -denúncia pela Justiça. Não há na imprensa brasileira norma clara de se preservar nome de suspeitos. A rigor, uma pessoa só pode ser considerada culpada quando a sentença estiver transitada em julgado. A repórter Cristina Christiano teve a atenção despertada para a possibilidade de erro ao fazer o perfil da mãe. Na casa de Daniele, ela viu roupas bordadas e detalhes que revelavam zelo, e não desdém da mãe. Orientada pelo editor Décio Trujilo, Cristina ouviu um toxicologista que foi categórico: os sintomas (pressão e temperatura baixas, batimentos cardíacos lentos e sono) não eram os de overdose, mas de quem tomava antidepressivos, ou seja, o fenobarbital, que efetivamente Victória usava. A repórter colheu informações em laboratórios e com uma professora de toxicologia da USP que afirmou: o exame (blue test) feito no dia da prisão poderia apresentar um falso resultado. Assim, em 10 de novembro -15 dias antes do resultado do laudo oficial-, Cristina publicou reportagem levantando a hipótese de erro, mostrando a incoerência dos sintomas de Victória e os de overdose, elementos suficientes para afirmar que Daniele era vítima".


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