São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

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Ribamar à esquerda e à direita


O ombudsman não pode emitir juízo de valor sobre o conteúdo opinativo publicado pelo jornal


EM 1930, NASCERAM no Maranhão, a 333 km e cinco meses de distância, dois meninos que receberam o nome Ribamar, mais tarde abandonado por ambos.
Os dois gostavam de livros e de política e se destacaram como talvez os maranhenses mais famosos do século 20. Um foi da UDN, o partido conservador do Brasil dos anos 1950, e presidiu a Arena, que dava apoio aos militares na ditadura. O outro foi do PCB e presidiu o Centro Popular de Cultura, núcleo de intelectuais de esquerda nos anos 1960.
Quiseram o destino e os desatinos da política brasileira que, aos 79 anos, José Sarney e Ferreira Gullar se tornassem dois dos colunistas mais atacados por leitores deste jornal. Curiosamente, muitos que se consideram esquerdistas criticam Gullar e poupam Sarney.
Há quem cobre do ombudsman que se posicione em relação a colunistas controversos. Como já expliquei aqui, o ombudsman não pode emitir juízo de valor sobre o conteúdo opinativo publicado pelo jornal.
Se o fizer, estará se alienando dos que não concordarem com sua opinião. O dever do ocupante deste cargo é tentar cumprir a missão impossível de representar quase 1 milhão de pessoas, que têm entre si as mais diversas visões de mundo.
O ombudsman se esforça para satisfazer a alguns desejos específicos de todos os leitores, não a todos os desejos de alguns leitores específicos. Em princípio, todos querem um jornal com menos erros, mais bem escrito, mais imparcial, mais claro, mais atraente, mais útil. Esses são os objetivos de seu trabalho.
Mas ele não precisa se omitir em relação às colunas. Quando elas cometem erros factuais, por exemplo, é necessário apontá-los. Tenho a impressão de que Gullar cometeu um no domingo passado.
Ele disse que ter filhos se tornou um modo fácil de aumentar a renda familiar graças ao programa Bolsa Família e citou exemplo de pessoa que passou de 3 para 7 filhos (mais 1 na barriga) para elevar seus benefícios. Pode ser, mas só por meio de burla da lei porque segundo a regulamentação do programa há um limite de benefícios por filho, que é de três (mais dois adolescentes de 16 a 17 anos que estiverem na escola).
Outra questão sobre colunistas para a qual o ombudsman precisa estar vigilante é se o jornal garante pluralismo de ideologias e partidos na composição de sua equipe.
Às vezes, como no atual momento político, com o vasto arco da aliança que apoia o presidente da República, é complicado.
Há muitas acusações de que a Folha tem um time de colunistas que pende para a direita. A dificuldade para definir o que seja esquerda ou direita atualmente é clara.
Mas há que reconhecer que nomes como Cesar Benjamin, Marina Silva, Paulo Nogueira Batista Jr., Luiz Gonzaga Belluzzo, Fernando Gabeira, Ferreira Gullar, entre outros, não podem ser classificados como "de direita", ainda que eventualmente critiquem o governo, tido como de esquerda.
E nomes como Delfim Netto e Sarney, muitas vezes vistos como "de direita", não podem ser listados entre os opositores do presidente, considerado de esquerda, porque eles indiscutivelmente o apoiam.
Muitos pedem que a Folha tire a coluna de Sarney. O ombudsman transmite à direção esses pedidos. Mas não opina sobre eles.


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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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