|
Próximo Texto | Índice
OMBUDSMAN
Credibilidade e transparência
MARCELO BERABA
A 26ª Conferência Anual
da ONO (Organização de
Ombudsmans de Notícias) e o
Fórum Folha de Jornalismo, realizados ao longo da última semana em São Paulo, giraram
em torno de um ponto que hoje
deveria ser a principal preocupação dos jornalistas e dos meios
de comunicação: a credibilidade.
Foram apresentadas várias
pesquisas e análises que comprovam que a indústria jornalística
tem motivos para se inquietar.
Mesmo em países como o Brasil,
em que os índices de confiança
nos meios são altos (Ibope/Opinião, maio de 2005) e a imprensa goza de mais prestígio que os
governos (BBC/Reuters/Media
Center Poll, maio de 2006), é tensa a relação entre um público cada vez mais exigente e as empresas envolvidas em uma grande
disputa pelo mercado.
Houve muitas críticas em relação ao jornalismo que está sendo
feito em várias partes do mundo.
Chato, aborrecido, sensacionalista, superficial, desfibrado, distante dos interesses das pessoas,
mal apurado, de entretenimento
e celebridades, comercial, irresponsável, descontextualizado
-a lista de adjetivos negativos é
imensa. É curioso que, muitas
vezes, o que para uns é virtude,
para outros é defeito.
O jornalista Andres Oppenheimer, do "Miami Herald" e especialista em América Latina, foi o
mais contundente na crítica aos
jornais. Na opinião dele, os diários perdem leitores porque não
conseguem atendê-los: são repetitivos, previsíveis e chegam com
notícias envelhecidas. "Os jornais [como são feitos hoje] estão
moribundos, estão a caminho da
morte." Ele acha que, para enfrentar a velocidade de circulação das informações, eles deveriam ser mais analíticos, mais
investigativos e terem um controle mais rigoroso daquilo que
editam para que sejam mais
confiáveis do que "o dilúvio de
informações" que nos afoga.
Transparência
Não há consenso em relação ao
futuro do jornalismo, mas os
ombudsmans estão de acordo
sobre a necessidade de os meios
se aproximarem mais de seus
públicos e de se tornarem mais
transparentes. Transparência,
no caso, significa prestar contas,
deixar claro os valores que defendem, os interesses econômicos
e políticos a que seus grupos empresariais estão associados, seus
métodos de trabalho interno,
suas fontes de faturamento, seu
desempenho econômico e os recursos de que dispõem para melhorar a qualidade do produto
que oferecem.
Germán Rey, pesquisador e ex-ombudsman do "El Tiempo", de
Bogotá, chamou a atenção, ao
falar sobre a imprensa latino-americana, para a incoerência
dos meios que cobram a prestação de contas dos governos e exigem comportamento ético dos
políticos, das empresas e das pessoas, mas que não se dispõem a
prestar contas, não se submetem
aos mesmos escrutínios que impõem nem respeitam os mesmos
valores que cobram.
Os meios querem vigiar a política, comentou Rey, mas não se
deixam vigiar. A questão, claro,
não é deixar de fiscalizar, mas de
ser coerente com os princípios
que elegeram.
A iniciativa de transparência
que mais me impressionou foi a
do diário britânico "The Guardian". Segundo seu ombudsman, Ian Mayes, presidente da ONO, o jornal contratou uma
empresa para fazer uma auditoria social que investigou desde
itens como a política de contratação de pessoal até a origem do
papel que o jornal compra (para
saber se é fabricado por empresas que provocam problemas
ambientais). A auditoria revelou, por exemplo, que o jornal
nem sempre pagava em dia os
seus credores.
Fica a sugestão.
Próximo Texto: Nos Estados Unidos: A conexão com os leitores Índice
Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|