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OMBUDSMAN
O espaço da crise
MARCELO BERABA
D.Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (MG) e colunista da Folha,
criticou na quarta-feira a cobertura da imprensa no caso da crise política. Não reclamou de falta de equilíbrio ou de irresponsabilidade, as acusações mais
freqüentes, mas sim do que considera um exagero: "A corrupção
precisa ser combatida. Mas os
jornais não podem ocupar a
maior parte de seu espaço somente com isso. Há muita coisa
no país que também precisa ser
discutida, como saúde, reforma
agrária e a situação dos idosos".
Três observações:
1 - Os números da Folha confirmam a impressão de d. Luciano. O noticiário da crise é predominante. Mas acho que não poderia ser de outra forma, tal a
gravidade da situação.
O jornal praticamente dobrou
o espaço no caderno Brasil destinado à cobertura política por
conta das acusações de corrupção. Para ter uma idéia, o jornal
destinou o correspondente a três
páginas e meia (3,64 páginas,
para ser exato) ao noticiário político e nacional em janeiro. Em
fevereiro, publicou quase cinco
(4,84). A partir de maio esse espaço foi sendo ampliado até chegar, no mês de julho, ao equivalente a quase sete páginas por
dia (6,74).
Outro indicador, este do Banco
de Dados: no primeiro semestre
deste ano, o assunto mais contemplado pelo jornal foi o governo Lula (média de 742 textos por
mês), seguido de perto pelo futebol (725 por mês). Agora em julho, com a ampliação da crise, o
governo Lula, incluído o "mensalão", teve 1.397 textos; o futebol continuou em segundo, mas
distante, com 740.
O ranking de personagens preferidos do jornal também mudou muito em julho. Ao longo do
primeiro semestre, a relação dos
dez nomes mais citados incluía
os principais personagens da crise, mas ainda havia espaço para
George W. Bush, João Paulo 2º e
Bento 16. Agora, em julho, os dez
primeiros são todos da política
ou das CPIs. Pela ordem: Marcos
Valério, Lula, Delúbio Soares,
José Dirceu, Roberto Jefferson,
José Serra, Geraldo Alckmin, Silvio Pereira, José Genoino e Renilda Fernandes.
2 - Alguns assuntos não têm espaço nos jornais com ou sem crise. É importante que d. Luciano
chame a atenção para temas que
considera mal tratados, mas
eles, em geral, são sempre mal
tratados. Em relação à Folha,
dos três temas citados, um deles,
a saúde, tem tido uma atenção
especial do jornal e foi o sexto assunto mais bem coberto no primeiro semestre. Os outros, reforma agrária e idosos, realmente
são ignorados.
A cobertura do campo está
centrada nas invasões de terra.
Idosos? O Banco de Dados localizou quatro textos em julho: três
notinhas nos cadernos Equilíbrio e Cotidiano e uma reportagem sobre consumo, em Dinheiro. Imagino que d. Luciano não
se referia a esse tipo de cobertura.
3 - O problema maior que vejo
na cobertura da crise não é o
"exagero" do espaço, mas a forma como ele é utilizado. Em resumo, há muita notícia menor
ocupando muito espaço, falta
avaliação da importância dos fatos revelados e há poucas análises e bastidores que ajudem a entender o que está acontecendo.
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