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OMBUDSMAN
O súbito interesse
MARCELO BERABA
Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e
agora pré-candidato a presidente da República pelo PSDB,
fez um comentário, na segunda-feira, que indiretamente
questiona a imprensa. Ao avaliar os vários casos que surgiram nos últimos dias envolvendo-o (Nossa Caixa, guarda-roupa de sua mulher, acupunturista), ele atribuiu as acusações aos adversários políticos e
fez a seguinte observação: "O
interessante é que tudo isso
apareceu depois que virei candidato a presidente. Uma coisa
totalmente oportunista".
O ex-governador tem alguma
razão no que diz respeito à imprensa. Não no sentido de que
ela não deveria expor esses casos agora. Mas no sentido de
que revela como trabalham os
meios noticiosos. Por que as
acusações não surgiram antes,
ao longo de seu mandato? A
resposta é simples: os jornais
cobriram mal seu governo. O
principal foco ao longo dos três
últimos anos foi Brasília, o Planalto e o Congresso.
Em relação a Alckmin, recolhi dados que apóiam a minha
avaliação. A Transparência Brasil tem um arquivo (www.deuno
jornal.org.br) com reportagens
sobre fraudes, irregularidades colhidas diariamente em 63 jornais
e revistas desde janeiro de 2004.
A maioria absoluta dos textos é
de denúncia, um ou outro trata
de projetos e políticas para se
combater a corrupção. Alckmin
foi praticamente ignorado em
2004 e 2005. Em 2004, foram arquivadas 33 reportagens da Folha, 34 de "O Estado de S. Paulo"
e 15 de "O Globo" que, para o bem
ou para o mal, mencionam o ex-governador. Em 2005, foram, respectivamente, 53, 49 e 14. Agora,
em 2006, a Folha já publicou, até
o dia 11/4, 45 reportagens, o "Estado", 35, e "O Globo", 41.
Uma das acusações contra
Alckmin é que sua base parlamentar impediu, ao longo de todo o mandato, a criação de CPIs
na Assembléia. Com a ajuda do
Banco de Dados da Folha localizei apenas dez reportagens publicadas pelo jornal ao longo de três
anos (2003 a 2005) com informações sobre o assunto.
Aliás, os jornais em geral, e não
apenas os grandes, cobrem mal
os governos e Legislativos estaduais e as prefeituras das capitais, mesmo nos Estados e nas capitais onde têm sede. Daí a sensação de oportunismo quando resolvem trabalhar.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
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