São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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O ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

A influência paulista

O Projeto Deu no Jornal (www.deunojornal.org.br), da Transparência Brasil, acompanha o noticiário sobre corrupção publicado por 63 dos principais jornais do país. Levantamento recente feito pelo diretor-executivo da Transparência, Claudio Weber Abramo, revela alguns dados que merecem futuras reflexões dos que observam o desempenho da imprensa nesta crise política.
1 - As acusações contra o governo Lula e parlamentares provocaram o aumento de forma extraordinária do espaço que os jornais dedicam aos casos de corrupção. Para que se tenha uma idéia, desde 14 de maio (flagrante nos Correios), esse espaço cresceu 243% no conjunto dos jornais monitorados. No caso da Folha, houve um crescimento de 270%. O levantamento não inclui textos de apoio, como infográficos e memórias.
2 - A atenção dada aos Correios e ao "mensalão" abafou a cobertura de novos casos de corrupção. Até meados de maio, os jornais iniciavam, em média, 3,66 novos casos de corrupção por dia; desde então, esse índice caiu para 2,88 casos. O fenômeno é percebido principalmente nos jornais de fora do Sudeste.
3 - A cobertura tem uma forte influência dos grandes jornais, principalmente dos paulistas. De todo o material publicado sobre os Correios e o mensalão, 23% saíram na Folha, no "Estado" e no "Globo". E, das reportagens publicadas Brasil afora atribuídas às agências de notícias, 94% foram distribuídas pelos grupos Folha e Estado.
Pedi a Abramo um comentário sobre o noticiário dos jornais. Suas sugestões:
"A cobertura não tem explorado avenidas que poderiam trazer mais informações para entender o escândalo. Em especial, as raízes da corrupção não estão sendo adequadamente perseguidas. Por exemplo: o caso dos Correios mostra uma raiz clara, o loteamento do Estado entre partidos políticos em troca de apoio de parlamentares. Então, é importante saber como é que os cargos da administração federal são loteados. Um infográfico que mostrasse onde os diferentes partidos estão instalados daria uma boa idéia do quadro, apontando para onde poderiam estar ocorrendo falcatruas.
Outro assunto muito mal contado é a história de que os dinheiros do "valerioduto" teriam sido usados para pagar dívidas de campanha eleitoral. Isso está passando quase em branco. Para cada um dos acusados, a imprensa faria bem se investigasse a probabilidade de essa história da Carochinha ser verdadeira. "A quem o senhor pagou com esse dinheiro?" Na ausência de resposta, o leitor que tirasse a sua conclusão".


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