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O acordo do Exército
Em uma semana relativamente calma de reclamações, o assunto que provocou mais questionamentos foi a segunda manchete da capa da Folha de quarta-feira, "Exército recupera armas após fazer acordo com facção de traficantes". Segundo o
jornal, "integrantes do Exército
negociaram sigilosamente com a
facção criminosa Comando Vermelho" a recuperação das armas
roubadas no dia 3 num quartel
do Rio. Ainda segundo o jornal,
as armas já haviam sido recuperadas pelo Exército na noite de
domingo, o que significou dizer
que o Exército mentiu ao informar que as encontrou na noite
de terça-feira.
Os leitores que escreveram consideraram a informação, publicada apenas pela Folha, "inverossímil", "uma balela", "uma
baita forçada de barra", "uma
mentira". O jornal credita a informação a "relatos feitos à Folha por pessoas envolvidas" na
recuperação das armas.
"O Globo" atribui a devolução
das armas à asfixia experimentada pelos traficantes com o cerco imposto pelo Exército às favelas, mas dá a entender que pode
ter havido algum acordo: "Fontes da área militar disseram que
as armas foram devolvidas em
troca da saída do Exército de favelas ocupadas, como ocorreu no
domingo".
Embora não revele suas fontes
-mais do que um direito, é
obrigação do jornal preservá-las-, a Folha traz bastantes detalhes do acordo e comprova que
sabia desde terça-feira que o
Exército ocuparia a Rocinha para encenar a localização das armas. O prefeito do Rio, Cesar
Maia, também revelou que sabia
da recuperação desde o
domingo.
O Exército nega o acordo, que
está sendo investigado pelo Ministério Público Militar. Este é o
tipo de informação difícil de ser
comprovada. O Exército agiu
neste caso todo do Rio de forma
propositalmente confusa, dentro
da nossa tradição de pouca informação e pouca transparência.
Com base nas notícias que li no
dia e nas edições seguintes, pareceu-me que a Folha está bem informada. Tem a obrigação agora
de continuar a acompanhar as
investigações de perto e de buscar junto às suas fontes mais provas. Caso se comprove que errou,
deverá reconhecer o erro sem
subterfúgios. É o que se espera
dela.
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