São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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O acordo do Exército

Em uma semana relativamente calma de reclamações, o assunto que provocou mais questionamentos foi a segunda manchete da capa da Folha de quarta-feira, "Exército recupera armas após fazer acordo com facção de traficantes". Segundo o jornal, "integrantes do Exército negociaram sigilosamente com a facção criminosa Comando Vermelho" a recuperação das armas roubadas no dia 3 num quartel do Rio. Ainda segundo o jornal, as armas já haviam sido recuperadas pelo Exército na noite de domingo, o que significou dizer que o Exército mentiu ao informar que as encontrou na noite de terça-feira.
Os leitores que escreveram consideraram a informação, publicada apenas pela Folha, "inverossímil", "uma balela", "uma baita forçada de barra", "uma mentira". O jornal credita a informação a "relatos feitos à Folha por pessoas envolvidas" na recuperação das armas.
"O Globo" atribui a devolução das armas à asfixia experimentada pelos traficantes com o cerco imposto pelo Exército às favelas, mas dá a entender que pode ter havido algum acordo: "Fontes da área militar disseram que as armas foram devolvidas em troca da saída do Exército de favelas ocupadas, como ocorreu no domingo".
Embora não revele suas fontes -mais do que um direito, é obrigação do jornal preservá-las-, a Folha traz bastantes detalhes do acordo e comprova que sabia desde terça-feira que o Exército ocuparia a Rocinha para encenar a localização das armas. O prefeito do Rio, Cesar Maia, também revelou que sabia da recuperação desde o domingo.
O Exército nega o acordo, que está sendo investigado pelo Ministério Público Militar. Este é o tipo de informação difícil de ser comprovada. O Exército agiu neste caso todo do Rio de forma propositalmente confusa, dentro da nossa tradição de pouca informação e pouca transparência.
Com base nas notícias que li no dia e nas edições seguintes, pareceu-me que a Folha está bem informada. Tem a obrigação agora de continuar a acompanhar as investigações de perto e de buscar junto às suas fontes mais provas. Caso se comprove que errou, deverá reconhecer o erro sem subterfúgios. É o que se espera dela.


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