São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009

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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

ombudsman@uol.com.br

Reação pontual é pouco em tragédia anunciada

COMO ERA PREVISÍVEL , o calor do quase verão traz chuvas pesadas, que provocam novas tragédias em São Paulo, às quais o jornal responde com o habitual registro factual das mortes, enchentes, congestionamentos.
Como fazem os meios eletrônicos quando os fatos estão ocorrendo, com muito mais drama e utilidade para o público, pelas razões óbvias da essência mesmo de cada tipo de meio de comunicação.
O que só o jornalismo impresso pode fazer é mostrar com profundidade as razões por que esses desastres anunciados continuam ocorrendo, por meio de trabalho detalhado de reportagem e investigação.
As pistas estão aí, como no livro indicado ao final. E em muitas outras fontes. Mudanças climáticas, prioridade para o transporte individual, obras mal planejadas, opção equivocada de ampliar vias asfaltadas às margens de rios, incentivo à ocupação habitacional de várzeas ribeirinhas, deficiência na coleta de lixo e na educação para ela, fragmentação na administração de ações ambientais e econômicas nos diversos níveis de governo: são muitos os temas a serem explorados para tentar dar conta do problema.
E o jornal deveria cobrar soluções das autoridades públicas durante o ano todo para contribuir para minimizar desgraças futuras e tentar engajar os leitores em esforço conjunto em benefício de todos. Com raras exceções, como as excelentes reportagens de quinta e sexta sobre a escandalosa situação do Jardim Pantanal, bairro que ficou pelo menos 11 dias alagado com a população em situação higiênica e sanitária deplorável, o jornal fez muito pouco além de ser pontualmente reativo.
Tudo indica que em São Paulo e outras metrópoles brasileiras o futuro será parecido com o previsto para Los Angeles em 2019 no filme abaixo recomendado. Muita chuva será rotina. É preciso se preparar para enfrentá-la.

PARA LER
"Inundações Urbanas na América do Sul", De Carlos E. M. Tucci, Juan Carlos Bertoni (organizadores), ABRH, 2007 (a partir de R$ 45)

PARA VER
"Blade Runner, o Caçador de Androides", de Riddley Scott, 1982 (a partir R$ 13,90)


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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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