São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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O caso do cabeleireiro

A Folha tem publicado várias notas cifradas. São notícias sem fonte identificada e sem provas que apenas insinuam. Algumas são bobagens, outras beiram a irresponsabilidade.
O jornal publicou na terça-feira, na coluna de Mônica Bergamo, a nota "Escova", que reproduzo: "Longe dos flashes desde que a crise do "mensalão" eclodiu, a primeira-dama, Marisa Letícia, sumiu também de seu salão preferido: o Studio W, de Wanderley Nunes, em SP. Quando conseguia convencer o cabeleireiro a deixá-la pagar pelos serviços, de até R$ 3.000, a conta de dona Marisa era quitada com cartão de crédito. Não o seu".
Quem pagava as despesas da primeira-dama? Em qualquer outra ocasião, a informação passaria como uma nota inconseqüente, mas não agora, quando estão sendo investigados o uso de caixa dois pelo PT e o uso dos cartões de crédito corporativos da Presidência da República.
O jornal publicou, no dia seguinte, o desmentido assinado por André Singer, secretário de Imprensa e porta-voz da Presidência da República: "A Secretaria de Imprensa e porta-voz da Presidência da República desmente categoricamente a informação, leviana, publicada ontem na Folha de que a primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva, tenha quitado qualquer conta com cartão de crédito de que não fosse a titular".
Era de esperar que o jornal se manifestasse. Se a nota estava correta, deveria reafirmá-la. De preferência, apontando o dono do cartão de crédito que pagava a conta. Se a nota estava realmente errada, o certo era admitir o erro e publicar uma correção. O jornal preferiu o silêncio.
Há um outro problema na nota. Segundo a revista "Quem", da Editora Globo, a primeira-dama não sumiu do salão. Pelo menos, é o que informa a nota "Pit stop" da penúltima edição: "De passagem por São Paulo, na quarta-feira, 3, a primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva, aproveitou para cuidar do visual. Fez um pit stop no novo salão de seu fiel escudeiro Wanderley Nunes, o W Iguatemi, recém-inaugurado na capital paulista. Ela chegou com um buquê de flores para o amigo e ficou algumas horas no local para fazer hidratação, corte e cor. Logo na seqüência, voltou para Brasília, que, como todo mundo sabe, está pegando fogo nas últimas semanas. "Eu não cobro o corte de cabelo de apenas dez pessoas, e a Marisa é uma delas. Não cobro, primeiro, porque isso ficará na minha história, e, segundo, porque somos muito amigos. Eu freqüento a casa dela e ela a minha. Conversamos sobre tudo, menos política", conta Wanderley".
E agora? Sumiu ou não sumiu? Pagou com cartão de crédito de outro ou nunca pagou o cabeleireiro? Imagino que a Folha ainda vá esclarecer esse caso.


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