São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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OMBUDSMAN

Ritmo de quelônio

BERNARDO AJZENBERG Com intervalo de apenas dez dias, duas edições da Folha neste mês saíram sem a seção "Erramos". A primeira foi no dia 11; a segunda, dia 19, terça-feira passada. É algo inusitado, e qualquer leitor poderia se perguntar: então não havia erros para preencher aquele espaço? Ledo engano.
A ausência da célebre rubrica, nessas edições, tem um caráter simbólico e é, ao mesmo tempo, um sintoma. O jornal, que proclama em alto e bom som a sua transparência, tem, na prática, maltratado esse expediente que lhe foi sempre tão caro, assim como aos seus leitores.
Das 58 sugestões de retificação de conteúdo contidas nas críticas diárias do ombudsman desde 12 de março, 30 (52%) foram publicadas; pelo menos 20 (34,5%) -simples, óbvias e claras- aguardam na fila, e o restante (13,8%), nem tão evidentes, permanece em zona de indefinição.

Perguntas
Exemplos de sugestões indiscutíveis: 1) a dívida externa argentina é de US$ 128 bilhões e não US$ 128 milhões (25/5); 2) diferentemente do que afirmou texto de 29/5, o Brasil tem 2.008 livrarias, conforme reportagem do próprio jornal de 1º/3, e não 800.
Além do ombudsman, aponta erros e sugere correções -principalmente de forma- o Programa de Qualidade (PQ).
Comunicado do dia 12 -do qual "roubei", diga-se, o título desta coluna-, de autoria de seu coordenador, Rogério Ortega, lança as seguintes perguntas: "...quando o erro é incontestável, por que, muitas vezes, ele não é corrigido rapidamente? Por que certos "Erramos" demoram meses para ser publicados? Por que se age de maneira tão frontalmente contrária ao que determina o manual?".
Segundo sua contabilidade, de 36 erros graves apontados em abril, 27 (75%) foram reconhecidos; em maio, dos 47 indicados, só 32 (68%) tiveram admissão pública.
Exemplos evidentes, não admitidos: "O valor solicitado pela empresa Park Air Eletronics na licitação da Aeronáutica para reaparelhar o Cindacta-1 foi US$ 14,6 milhões, e não US$ 14,6, como publicado" (22/5); 2) "A cantora Britney Spears, por ser norte-americana, não pode ser "eleitora declarada" do premiê britânico Tony Blair, como afirmava texto publicado em 6/6".

Compromisso
Gustavo Patú, secretário interino de Redação, afirma que a direção do jornal está "insatisfeita com o ritmo lento de tramitação interna dos "Erramos", vai conversar com os editores e pressionar para que isso mude". É o mínimo a fazer.
Ao criar o "Erramos", o jornal assumiu um compromisso com o leitor. Como se dissesse: sabemos ser impossível fazer todo dia um jornal sem erros, mas esteja certo, leitor, de que buscamos esse objetivo e de que, quando não o atingimos, você fica sabendo, com clareza, onde os erros estão.
Trata-se de uma questão de credibilidade, principal patrimônio de qualquer órgão de comunicação sério. E é ele que a Folha golpeia quando "engaveta", negligencia ou trata com morosidade os seus equívocos.



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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor -recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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