|
Próximo Texto | Índice
OMBUDSMAN
Marcelo Beraba @ - ombudsman@uol.com.br
A reforma gráfica
Jornais usam reformas como instrumento de renovação e também como propaganda
|
A FOLHA tem, desde o
domingo passado, um
novo visual. É a quinta
grande reforma que faz desde
o final da década de 1980.
Na luta por um lugar ao sol
num mercado cada vez mais
competitivo, as empresas jornalísticas adotaram as reformas gráficas como um elemento de renovação e de marketing. Os adjetivos pinçados
para os lançamentos são cada
vez mais publicitários. Mas,
como todos os grandes jornais
brasileiros se reformaram nos
últimos anos, o impacto das
mudanças é cada vez menor.
O projeto da Folha parte de
aspectos da vida moderna que
desafiam os diários: a falta de
tempo do público, a internet e
a rapidez na difusão das notícias. Ela acredita que está editada agora de uma forma que
pode ser lida em "duas velocidades": 5 minutos (pelo "leitor que folheia") ou 50 minutos (pelo "leitor profundo").
A minha primeira impressão foi de excessos -de cores,
de recursos gráficos, de informações pingadas-, como registrei na Crítica Interna de
segunda-feira. Recebi, até
sexta, 115 mensagens sobre a
reforma. Como sempre, menos elogios, embora desta vez
o número de mensagens de
apoio, 21, tenha sido o maior
que já recebi sobre alguma
iniciativa do jornal -lembro
que raramente os leitores satisfeitos procuram o ombudsman. Vamos às críticas.
Menos texto
Demétrio Magnoli, o titular
da coluna vertical das quintas-feiras da página A2, calcula que perdeu 20% do espaço
que tinha e reclamou, no pé
do artigo do dia 25 ("O indizível"): "Esta coluna perdeu
quase um quinto do seu espaço. De que serve opinião sem
fato ou contexto histórico?"
Magnoli não foi o primeiro
a reclamar. No domingo mesmo da implantação do novo
projeto, Janio de Freitas chamou a atenção, na nota "Explicar é preciso", para o engessamento que a reforma impôs
à sua coluna. "É uma tendência atual em grande parte da
imprensa: a prioridade ao grafismo publicitário. Bom tema
para debate, sobre suas origens e conseqüências, se há
tanto tempo o jornalismo, em
geral, não estivesse desinteressado de se discutir".
O espaço para os leitores
encolheu. O "Painel do Leitor" publicou, de domingo a
sexta desta semana, 56 cartas
(muitos elogios à reforma) e
uma nota de Redação; na semana anterior, no mesmo período, foram publicadas 63
cartas, com três respostas da
Redação -uma perda de 11%.
Vamos ver como será daqui
para a frente. O jornal tenta
compensar com a edição de
cartas na internet (www.folha.com.br/paineldoleitor),
mas é claro que não tem o
mesmo efeito. O leitor José
Valter Martins de Almeida escreveu que imaginava que o
"PL" seria ampliado e se decepcionou. Eu também. Esta
coluna do ombudsman perdeu pelo menos 4% de texto.
Letras menores
Muitos leitores reclamaram que o tamanho das letras
teria sido diminuído em algumas seções, sobretudo na
Ilustrada. Ulysses Gavaldão
foi direto no que lhe interessa:
"Estou reclamando das palavras cruzadas, que eu tenho o
hábito de fazer todos os dias e,
infelizmente, ficou impossível com a diminuição das letras". Ele brinca com os que fizeram a reforma: "Está faltando um pouco de visão para este pessoal". As queixas se estenderam à programação de
filmes e TV e à "Astrologia".
Ilustrações
O novo figurino da Folha
acabou com as ilustrações em
cerca de 20 colunas fixas. Os
artigos ganharam mais destaque editados no alto das páginas, mas perderam espaço e as ilustrações, portas de atração para os textos e de reflexão. Recebi 20 queixas, principalmente de ilustradores. A
maior parte das cartas lembrava que a Folha havia valorizado a ilustração ao longo das últimas duas décadas e
que não entendia a razão da
mudança empobrecedora.
A colunista Barbara Gancia
acusou a perda na sexta-feira:
"O jornal como um todo está
mais formoso e ganhou em
agilidade com a reforma. Mas,
na minha modestíssima opinião, este canto específico da
página dois do caderno de Cotidiano saiu perdendo. Ficou
com cara de bula de remédio".
Ainda é cedo para uma avaliação mais profunda das mudanças no conteúdo do jornal.
Na minha opinião, o aspecto
mais importante é que a reforma gráfica e a campanha
publicitária que gerou indicam que a empresa está, enfim, terminando a travessia
do deserto que debilitou a Redação nos últimos três anos e
reiniciou os investimentos no
jornal. Já era tempo.
Próximo Texto: Cortes foram de até 20% Índice
Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|