São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

Próximo Texto | Índice

Os bancos saíram bem na fita

Reportagem omitiu dado elementar sobre operações culturais das empresas: são poucos os negócios com risco

A REPORTAGEM "Bancos encabeçam lista de investimento em cultura", publicada no caderno Dinheiro da quarta-feira, tinha alguns problemas.
Um deles era relacionar Banco do Brasil, Petrobras e Eletrobrás como instituições privadas. A falsa "privatização", corrigida em "Erramos", foi o de menos. Abrindo mão do espírito crítico que deve norteá-la, a Folha divulgou os resultados de uma pesquisa de modo que os bancos pareceram mecenas generosos quando às vezes estão longe disso.
Estudo do Grupo de Institutos Fundações e Empresas mostrou que, dos dez maiores "investidores em projetos culturais" em 2005, cinco foram bancos (Bradesco, Banco do Brasil, Banco do Estado do Paraná, Itaú e Unibanco).
Relatou o texto: "Os investimentos em cultura [das empresas associadas ao Gife] aparecem em terceiro lugar, atrás de educação e desenvolvimento comunitário".
As palavras se repetiram: "investidores", "investimentos", "investiram". Nada se leu sobre "isenção fiscal", "renúncia fiscal" ou o eufemismo "incentivo fiscal".
A reportagem omitiu dado elementar sobre as operações culturais das grandes empresas: são poucos os "investimentos", negócios com risco. Há patrocínio, freqüentemente com dinheiro do Estado.
Não se trata de ser contra ou a favor, mas de informar o leitor para que ele possa tirar suas conclusões.
Como o jornal costuma noticiar, há leis de incentivo fiscal por meio das quais as empresas podem deduzir parcelas de impostos para aplicar em cultura. Elas deixam de recolher tributos e os destinam a patrocínios que promovem suas bandeiras.
Se dentro da lei, é tudo legal. Só que o jornal precisa avisar. Do contrário, os bancos saem melhor na fita do que deveriam. Os leitores não souberam que muitas empresas financiam projetos com a Lei Rouanet de incentivo.
Um bom antídoto para a Folha evitar tropeços assim é se inspirar no seu "Manual da Redação", em cujo verbete "Jornalismo crítico" se lê: "O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-la de um ponto de vista crítico".


Próximo Texto: Às vezes, notícia fraca derruba assunto forte
Índice


Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.