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OMBUDSMAN
A perseguição da mídia
MARCELO BERABA
O jornal "O Globo" publicou a primeira reportagem,
no domingo passado, e a Folha
acompanhou, nos dias seguintes. Segundo o diário do Rio, empresas relacionadas pelo PMDB
como doadoras da pré-campanha de Anthony Garotinho à
Presidência não funcionam nos
endereços declarados.
Era a ponta de um caso que foi
sendo destrinchado ao longo da
semana. Na terça-feira, a Folha
informou que uma das empresas doadoras tinha tido como sócio-fundador um assaltante que
está preso. No dia seguinte, o jornal trouxe a informação mais
importante: os financiadores
apresentados pelo PMDB são ligados a um instituto -contratado sem licitação- que presta
serviço ao governo do Estado do
Rio. Os dois jornais continuaram investigando as empresas e
descobriram novas conexões entre os doadores e a contratação
de serviços sem licitação.
Na quinta-feira, Garotinho assim se defendeu: "Tudo isso que
vem acontecendo é uma perseguição contra mim desde que eu
cresci nas pesquisas. Meus adversários, que são poderosos, como os bancos e as Organizações
Globo, têm feito uma perseguição implacável para ver se recuo". E acrescentou: "Por que
ninguém está questionando
quem pagou o avião no qual o
Alckmin veio ontem a Brasília?".
Tomei essa cobertura e as declarações do peemedebista como
exemplos porque contêm questionamentos sérios e comuns em
relação à imprensa.
Os jornais têm razão, na minha opinião, quando despendem esforços para desvendar as
caixas-pretas dos financiamentos eleitorais, fonte mais freqüente de corrupção na política.
A falta de vontade do Congresso para criar regras e punições
para os financiamentos ilegais,
para o uso de caixa dois e para o
desvio de recursos públicos para
campanhas eleitorais exige da
imprensa brasileira um trabalho contínuo e especializado. Está provado que este é um dos focos mais resistentes de corrupção. Garotinho tem razão, portanto, quando pede mais investigações.
Mas ele tem razão quando se
queixa de perseguição?
Garotinho não foi o único político a reclamar da imprensa
nas últimas semanas. Já tinha
citado em outra coluna reclamação mais polida do tucano
Geraldo Alckmin diante do noticiário negativo sobre a sua gestão no governo paulista: "O interessante é que tudo isso apareceu depois que virei candidato a
presidente. Uma coisa totalmente oportunista".
Nesta semana, a senadora petista Ana Júlia Carepa usou argumentos semelhantes para responder à CPI da Biopirataria,
que pediu ao Ministério Público
Federal o indiciamento de cinco
petistas acusados de montar, em
2004, no Pará, um esquema para arrecadar dinheiro para campanhas eleitorais municipais
por meio de liberação irregular
de madeira. "Quando o Lula sobe nas pesquisas, infelizmente
vêm as acusações."
O ataque mais violento da semana veio de outro petista, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu. Ele também se queixou da "perseguição" que estaria sofrendo: "Só no período da
Oban, do DOI-Codi [referências
aos órgãos de repressão da ditadura militar], a imprensa brasileira desceu tanto como está descendo neste momento da vida
política nacional".
O fato de políticos de partidos
adversários e com interesses eleitorais antagônicos atacarem a
imprensa não é em si uma evidência de equilíbrio na distribuição de denúncias nem significa que ela esteja cumprindo
bem o seu papel de fiscalização.
Como já assistimos em outras
ocasiões, a disputa necessária
entre os meios de comunicação
muitas vezes resulta na publicação de informações incompletas
ou erradas. Mas é certo também
que muitos políticos e partidos
usam o argumento da perseguição para tentar neutralizar a
ação da imprensa.
A campanha eleitoral mal começou, mas já está evidente que
a imprensa continuará no meio
do furacão. É bom que ela seja
questionada. Isso vai exigir mais
pessoal preparado para as investigações jornalísticas e mais
atenção nas edições. Uma combinação de cautela e eficiência,
sem se deixar intimidar.
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