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A imprensa e a CPI
A imprensa brasileira cumpriu,
no caso da CPI dos Correios e da
crise política que se arrasta desde
maio do ano passado, o papel que
dela se espera numa democracia?
Publico hoje as avaliações de um
leitor e de dois editores de jornal.
Um roteiro
Adjútor Alvim, leitor
"1. A imprensa foi eficiente em
demonstrar os desvios do governo Lula. Leviandades foram uma
exceção concentrada em alguns
órgãos e jornalistas. A maioria das
denúncias foi comprovada.
2. A imprensa não foi capaz de
demonstrar por que os desvios do
governo FHC não repercutiram
tanto quanto os do governo Lula.
Incompetência deste em abafá-los? Interesse das elites representadas no Congresso em desgastar
o governo? Conspiração das elites? Luta de classes, conforme sugeriu Marilena Chaui?
3. A imprensa está sendo ineficiente em discutir por que a popularidade de Lula continua em
alta apesar das denúncias. Somos
tolerantes com a corrupção? A
oposição não tem credibilidade
para as denúncias? A popularidade continua alta nas classes C, D e
E porque elas não têm acesso à informação ou porque estão satisfeitos com o governo Lula?
4. A imprensa tem sido ineficiente em analisar se temos opções políticas que não executam
as mesmas práticas de PT-PSDB-PFL-PMDB? Os deputados do
PSOL não se beneficiaram do caixa dois do PT? A prática é realmente sistêmica? Vamos votar em
outubro sabendo que elegeremos
corruptos?
5. A imprensa tem sido tímida
em apontar saídas para a crise.
Temos possibilidade de sair dela
pela via eleitoral? Precisamos mudar a legislação? Quais são as reformas políticas e eleitorais possíveis?
6. Há paralelo na crise que vivemos hoje com outras crises do
passado? Há risco de crise institucional se o impeachment for levado à frente? O cenário de hoje é
parecido com o de 1954 ou 1964?
Acho que todos esses assuntos,
embora já tenham sido mencionados na imprensa, devem ser
aprofundados em ano de eleição
presidencial."
Um ou outro senão
João Bosco Rabello, diretor da Sucursal de Brasília de "O Estado de São Paulo", e Claudio Augusto, editor de Nacional
"Talvez o melhor exemplo do
acerto e da seriedade do trabalho
da imprensa na cobertura da crise
de corrupção no governo Lula seja a denúncia apresentada pelo
procurador-geral da República,
Antonio Fernando de Souza. Ela
absorve quase a totalidade das denúncias publicadas e confirma a
gênese dos crimes praticados pela
cúpula do PT no governo. A base
aliada ao Palácio do Planalto procurou o tempo todo desacreditar
as investigações. Tudo era "invenção da oposição" com apoio de
uma "mídia golpista". No fim, o
parecer do procurador foi mais
contundente que o da CPI dos
Correios, produzido sob pressão
do PT.
É verdade que a imprensa, por
vezes, ficou a reboque das CPIs.
Mas é impraticável imaginar que
uma cobertura com documentos
comprometedores manuseados
por poucos parlamentares produziria revelações decorrentes exclusivamente da apuração dos repórteres. Vale observar que, em
comparação com escândalos anteriores, a imprensa foi muito
mais proativa. A crise nasceu de
um depoimento não espontâneo:
a célebre gravação revelada pela
"Veja" em que o funcionário dos
Correios Maurício Marinho aparece recebendo propina. Na seqüência, vieram a entrevista do
ex-deputado Roberto Jefferson à
Folha e, ao final, o depoimento do
caseiro Francenildo dos Santos
Costa ao "Estado".
O processo de apuração foi
complexo. Antes de publicar o depoimento do caseiro, por exemplo, o "Estado" obteve seus contracheques, buscou testemunhas de
que trabalhava na mansão da República de Ribeirão, além de confirmar que, ao lado de um motorista, entregou dinheiro ao chefe
de gabinete de Palocci.
Neste período de investigações e
duro trabalho jornalístico, caíram
a cúpula do PT e o chamado núcleo duro do governo. Jefferson e
José Dirceu foram cassados. A imprensa, com um ou outro senão,
cumpriu seu papel."
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