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Morton Scheinberg

Desperdício na saúde

Medicamentos importantes contra a artrite reumatoide não são oferecidos pelo SUS; se a doença progride, cirurgias são necessárias, criando custos

Um por cento da população brasileira parece pouco. Mas esse valor representa 2 milhões de brasileiros que sofrem de artrite reumatoide, doença que provoca fortes dores nas articulações e que mina a qualidade de vida, principalmente em jovens mulheres.

Aos poucos, a doença progride e provoca deformidades articulares incapacitantes. A artrite reumatoide, que é categorizada como autoimune por ser provocada por uma disfunção do sistema de defesa do corpo, acomete principalmente pacientes que dependem hoje do sistema público de saúde.

Na última década, foram introduzidos grandes avanços no tratamento dessa enfermidade, principalmente para pacientes que não respondem às terapias convencionais -metade da população acometida.

O avanço mais importante foi a criação de medicamentos biológicos, drogas criadas a partir da engenharia genética que atuam com alto grau de especificidade.

Em vez de inibir a resposta do sistema de defesa -a exemplo do que ocorre com os tratamentos convencionais-, esses medicamentos atuam de forma seletiva, interrompendo a cadeia inflamatória associada ao mecanismo de ação da doença. Três medicamentos dessa classe estão disponíveis na rede pública.

Quanto antes os biológicos forem introduzidos no tratamento, melhor o prognóstico, pois assim se previne de forma eficaz as deformidades e a incapacitação física.

Quando os pacientes não respondem ao tratamento, é necessário introduzir novos remédios. Eles também são biológicos, mas bloqueiam outros elementos da cadeia inflamatória. Três desses medicamentos estão disponíveis no país, mas não no SUS.

Os usuários da rede pública só podem obtê-los por meio de uma ação contra o Ministério da Saúde. Isso estimula a "judicialização" do atendimento público à saúde.

Em tempo: quem não consegue controlar a doença acaba tendo de recorrer à cirurgia. Ou seja, o controle efetivo da doença gera economia para os cofres públicos.

Para justificar a ideologia de prevenção, o SUS teria de incorporar os novos medicamentos biológicos ao sistema público. Seria preciso, portanto, aprovar o protocolo clínico, processo que vem se arrastando há mais de quatro anos sem explicações convincentes.

Já se ouve dizer, inclusive, que esse processo terá de passar por novas regulamentações. Ou seja, o processo voltará a estaca zero.

Isso faz com que os últimos quatro anos de espera sejam um desperdício de tempo e dinheiro, uma vez que são também os cofres públicos que precisam arcar com a progressão da doença nos pacientes não controlados.

O que acontece na prática é o seguinte: o médico precisa indicar um medicamento ineficaz na esperança de ajudar o paciente, que acredita que está sendo tratado -às custas do governo, que paga a conta.

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