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Frederico Fleury Curado

De paciente na UTI a atleta olímpico

O Brasil não precisa escolher entre ser potência industrial ou produtor de commodities, mas precisa vencer o seu anacrônico sistema tributário

A indústria foi o setor econômico no Brasil que mais sofreu com os movimentos macroeconômicos que o país e o mundo experimentaram nas últimas décadas.

A participação da indústria de transformação brasileira na formação do Produto Interno Bruto retrocedeu de 35% para 15% nos últimos 30 anos e a situação atual poderia ser metaforicamente classificada como a de um paciente na UTI.

Para uma maior clareza da dimensão do problema, a Coreia viu seu PIB industrial evoluir de 9% para 38% no mesmo período, a China de 27% para 52%, e a Indonésia de 9% para 30%.

O governo brasileiro não está contemplativo diante desse quadro negativo e tem utilizado três estratégias para criar um ambiente que permita a preservação e recuperação da indústria nacional: o Plano Brasil Maior, a redução dos juros associada a medidas prudenciais que tentam se contrapor ao processo de supervalorização do real e a sólida capacidade de investimentos do BNDES.

O Brasil precisa, entretanto, perenizar os meios e as condições para que sua indústria possa não apenas sobreviver, mas ter alta hospitalar, explorar todo seu potencial e vigor físico e evoluir para uma condição de atleta olímpico.

Isso se dará através de uma política industrial inteligente, arrojada e longeva, que necessariamente deve se apoiar nos pilares da produtividade, do estímulo aos investimentos e da competitividade global da economia brasileira.

A questão da produtividade envolve a qualificação da mão de obra, a inovação lato sensu, o desenvolvimento tecnológico e a modernização do parque industrial. Estado e empresas têm papéis complementares nesse esforço, sintonizando as suas prioridades, investindo de forma contínua, crescente e compartilhando riscos.

No que tange à competitividade global da economia brasileira, além de enfrentar a concorrência de importados no mercado doméstico, é preciso que a nossa indústria conquiste mercados de exportação.

Os fatores sistêmicos são complexos, como câmbio, infraestrutura e custo de capital, mas é no anacrônico sistema tributário que reside o maior empecilho ao desenvolvimento econômico e social do país.

Não é uma agenda simples, por certo, mas é rigorosamente necessária para fazer o Brasil deslanchar em definitivo.

Assim como um atleta não consegue competir em todas as modalidades, o Brasil não será competitivo em todos os setores da indústria. Por outro lado, uma vez estabelecidas as condições de longo prazo, o foco nos segmentos industriais com real capacidade de competir globalmente surgirão naturalmente.

O momento é propício para se iniciar uma firme reversão das adversidades que afligem a indústria brasileira. Um país com a dimensão geográfica e populacional do Brasil não precisa fazer uma opção entre ser uma potência produtora de commodities e uma potência industrial, tendo todas as condições de ser ambos.

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