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Blindagem na CPI

Mais que nunca, a sociedade está de um lado e os interesses do establishment político, tanto do governo quanto da oposição, de outro

Já são três governadores -dois da base governista e um da oposição- que se encontram sob o foco das suspeitas surgidas na esteira da CPI do caso Cachoeira.

Aos nomes de Agnelo Queiroz (PT-DF), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Marconi Perillo (PSDB-GO), a investigação ameaça agora acrescentar o de outro governador, o de Santa Catarina.

Trata-se de Raimundo Colombo (PSD), cujo secretário de Comunicação aparece nas escutas da Polícia Federal discutindo com representantes de Carlinhos Cachoeira a respeito de obras em Florianópolis.

Ainda que o escândalo tenha repercutido com maior força sobre a figura do senador goiano Demóstenes Torres, já desfiliado do DEM, as implicações do caso Cachoeira alastram-se rapidamente, atingindo proporções federais.

Foi vista como vitória da oposição, assim, a ampliação do foco das atividades da CPI -que, a julgar pelas formulações iniciais do relator, privilegiaria o Centro-Oeste como âmbito de interesse. Nem por isso os sinais de uma blindagem governista nos trabalhos da CPI se mostram menos preocupantes.

Os próprios membros da comissão não tiveram, até agora, garantido seu acesso à íntegra do material recolhido nas investigações.

Se depender do cronograma dos depoimentos à CPI, apresentado pelo seu relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG), um mês inteiro transcorrerá antes que algum político seja convocado. Apenas Demóstenes Torres tem presença prevista, para o último dia de maio.

O objetivo é claro: arrastem-se as tarefas da CPI ao máximo, na esperança de que o seu ímpeto arrefeça.

Não há outro motivo, ao que tudo indica, para a recusa do relator em nomear, desde já, subcomissões que possam dedicar-se, simultaneamente, às diversas ramificações do caso.

"Não vão convocar o Cabral nem o Agnelo", disse um líder petista à Folha. "Para convocar o Cabral, tem de convocar o Alckmin, o Kassab, porque a Delta também prestava serviço para esses governos."

Não há notícia, no entanto, de que o governador ou o prefeito de São Paulo tenham participado, como Cabral, de festas com o dono da Delta em Paris. E foi no Rio de Janeiro, em grande medida, que a empreiteira realizou sua admirável ascensão na última década (além das obras do PAC federal).

Pouco importa: o interesse da opinião pública é o de que nenhuma blindagem se faça, seja de parte do governo federal, seja dos setores oposicionistas também relacionados com o esquema.

Mais do que nunca, a sociedade está de um lado, e o establishment político, de outro, enredado nas suas próprias rivalidades internas e partidárias. Trata-se de desmascarar o que há de concordância, nos métodos ilícitos e nos contatos inconfessáveis, entre todos os envolvidos -não importa se do governo ou da oposição.

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