São Paulo, Sábado, 01 de Janeiro de 2000


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BANCO SEM POVO

A idéia é boa, funcionou em países tão distintos quanto Itália e Bangladesh. Mas o Banco do Povo, no Brasil, ainda é incipiente. Trata-se de criar linhas de "microcrédito": operações de pouco valor, em geral sem exigência de garantia, ligados a organizações comunitárias, com juros baixos. A experiência internacional sugere que se trata de meio adicional de distribuição de renda e combate à pobreza. No limite, de disseminação de atitudes empreendedoras. E, em geral, com baixa inadimplência.
No Brasil, um decreto presidencial qualificou ONGs para atuar como sociedades de financiamento a microempreendedores, sob controle do Banco Central. Mas, dos R$ 150 milhões disponíveis para empréstimos no BNDES, só R$ 16,3 milhões foram emprestados, ou 10,8% dos recursos repassados pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Na campanha da reeleição, o presidente FHC prometeu 860 mil operações anuais na modalidade de microcrédito. A julgar pela experiência nos três anos desde que foi lançado, será apenas mais uma promessa. Nenhum governo estadual ou prefeitura fechou contratos com o BNDES.
O problema não é só do governo federal. O Banco do Povo, iniciativa análoga que foi patrocinada pelo governo paulista, liberou menos de 20% dos recursos disponíveis.
Há dificuldades no treinamento dos agentes que vão conceder os recursos. Há queixas de burocratização excessiva e ausência de uma cultura de crédito no país. Do lado da demanda, falta informação e às vezes até disposição de correr algum risco. Afinal, o microcrédito não deve ser entendido como assistencialismo, mas como estímulo ao empreendedorismo -atitude que também poderia ser mais difundida no país.
Os obstáculos estão portanto na oferta e na demanda por esse tipo de programa. É mais um exemplo de política social para a qual o que falta não é verba, mas qualidade no atendimento e organização entre os que mais precisam dos recursos.



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