São Paulo, Sábado, 01 de Janeiro de 2000


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FANTASMAS SEM RECEITA

Há uma indústria de truques no submundo da lavagem de dinheiro e da sonegação fiscal. A triagem de CPFs, conduzida pela Receita Federal, é mais uma tentativa de fechar o cerco sobre essas operações.
Forjar identidades sempre foi crucial nos esquemas da sonegação e do crime organizado. Basta lembrar da criação de contas bancárias em nome de "laranjas", expediente que ficou célebre ao longo das investigações que afinal conduziram ao impeachment do presidente Collor.
Mas a ofensiva da Receita Federal revela um problema de dimensões inusitadas. A partir do dia 17 de janeiro serão suspensos ou cancelados nada menos que 49,6 milhões de CPFs (de um total de 115,7 milhões) das pessoas que não declararam Imposto de Renda em 99, não fizeram a declaração de isento, não tiraram CPF em 99 e não constam na declaração de outra pessoa como cônjuge.
Há sem dúvida muita desinformação e descuido. Ainda assim, tamanha proporção sugere que a indústria da sonegação também responde por boa parcela de CPFs que são "fantasmas". Foram descobertos casos de pessoas com 15 registros.
Não se trata apenas de uma questão criminal. Além do cerco à irregularidade, essa varredura poderá propiciar uma atualização de cadastros comerciais e financeiros em todo o país, melhorando a qualidade do processo de concessão de crédito.
É, aliás, importante que a Receita dê o máximo possível de transparência ao recadastramento, tanto para evitar que o indivíduo apenas desinformado seja prejudicado por uma irregularidade involuntária quanto para tornar mais claro o mapa da sonegação.
Somada à CPMF e a medidas administrativas tomadas no âmbito do Banco Central, a triagem de CPFs reduz o espaço não apenas do crime, mas da própria engenharia fiscal, ou seja, da arte de burlar a Receita com expedientes juridicamente corretos.
Levando em conta a sanha tributária dos últimos anos, é importante realizar o máximo de esforços para garantir que a qualidade da máquina arrecadadora também aumente.



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