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São Paulo, quinta-feira, 01 de janeiro de 2004

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CINCO ANOS DE EURO

A moeda única européia completa hoje cinco anos, sendo os três primeiros de curso restrito, com grande flutuação em suas cotações. O euro foi introduzido em janeiro de 1999 cotado a US$ 1,17. Sua desvalorização chegou a US$ 0,82 em setembro de 2000. A partir de janeiro de 2002, passou a se valorizar, ultrapassando US$ 1,25 no mês passado. Isso significa que a moeda única européia sofreu uma desvalorização de 30% para em seguida enfrentar uma valorização de 50%, ocasionada por movimentos de capitais de curto prazo (bônus corporativos, ações e títulos do governo) e de longo prazo (investimento estrangeiro direto).
No movimento de desvalorização do euro, os capitais europeus e do Oriente Médio (exportadores de petróleo) fluíram para o mercado norte-americano em razão de uma forte desigualdade na perspectiva de crescimento entre os EUA e a Europa.
No movimento inverso, de valorização do euro, os capitais deixam os EUA e rumam para a Europa em decorrência de diferenciais entre as taxas de juros nas duas regiões e dos temores desencadeados pelo crescente déficit comercial norte-americano, de cerca de US$ 500 bilhões (5% do Produto Interno Bruto).
O Banco Central Europeu (BCE) mantém sua taxa de juros básica em 2% ao ano, acima da taxa básica de 1% do Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA. O Fed procura conter os efeitos da deflação de ativos mobiliários (explosão da bolha na tecnologia na Nasdaq em 2000) e da queda nos investimentos produtivos. Por sua vez, o Tesouro americano passa a estimular uma política de desvalorização do dólar em relação às principais moedas internacionais para conter o déficit comercial.
Acontece que mais da metade do déficit norte-americano está concentrado na Ásia, cujos países têm procurado intervir no câmbio, fazendo com que suas moedas sigam os movimentos do dólar -que diante delas pouco se desvaloriza. Essas economias possuem elevados volumes de reservas, estimadas em US$ 1,4 trilhão, e compram ativos nos EUA, sobretudo títulos do Tesouro, garantindo o financiamento do déficit comercial norte-americano. Assim, no que se refere à Ásia, a desvalorização do dólar deverá ter pouco impacto no reequilíbrio das contas externas dos EUA. A conta tenderá a ser acertada com outros países, especialmente os da União Européia.
As exportações da área euro já caíram 3% entre janeiro e outubro de 2003 em relação ao mesmo período do ano anterior, prejudicando a incipiente retomada da economia européia. O BCE tem o recurso de reduzir sua taxa de juros básica, diminuindo a diferença entre as duas regiões. Pode ainda procurar coordenar uma intervenção no mercado cambial, com o Fed e os bancos centrais asiáticos. Há quem avente também, caso nada disso ocorra, a possibilidade de uma intervenção mais heterodoxa, como a introdução de controles sobre os fluxos de capitais na região se a valorização do euro for longe demais.



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