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CINCO ANOS DE EURO
A moeda única européia completa hoje cinco anos, sendo os
três primeiros de curso restrito, com
grande flutuação em suas cotações.
O euro foi introduzido em janeiro de
1999 cotado a US$ 1,17. Sua desvalorização chegou a US$ 0,82 em setembro de 2000. A partir de janeiro de
2002, passou a se valorizar, ultrapassando US$ 1,25 no mês passado. Isso significa que a moeda única européia sofreu uma desvalorização de
30% para em seguida enfrentar uma
valorização de 50%, ocasionada por
movimentos de capitais de curto prazo (bônus corporativos, ações e títulos do governo) e de longo prazo (investimento estrangeiro direto).
No movimento de desvalorização
do euro, os capitais europeus e do
Oriente Médio (exportadores de petróleo) fluíram para o mercado norte-americano em razão de uma forte
desigualdade na perspectiva de crescimento entre os EUA e a Europa.
No movimento inverso, de valorização do euro, os capitais deixam os
EUA e rumam para a Europa em decorrência de diferenciais entre as taxas de juros nas duas regiões e dos temores desencadeados pelo crescente
déficit comercial norte-americano,
de cerca de US$ 500 bilhões (5% do
Produto Interno Bruto).
O Banco Central Europeu (BCE)
mantém sua taxa de juros básica em
2% ao ano, acima da taxa básica de
1% do Federal Reserve (Fed), banco
central dos EUA. O Fed procura conter os efeitos da deflação de ativos
mobiliários (explosão da bolha na
tecnologia na Nasdaq em 2000) e da
queda nos investimentos produtivos.
Por sua vez, o Tesouro americano
passa a estimular uma política de
desvalorização do dólar em relação
às principais moedas internacionais
para conter o déficit comercial.
Acontece que mais da metade do
déficit norte-americano está concentrado na Ásia, cujos países têm procurado intervir no câmbio, fazendo
com que suas moedas sigam os movimentos do dólar -que diante delas pouco se desvaloriza. Essas economias possuem elevados volumes
de reservas, estimadas em US$ 1,4
trilhão, e compram ativos nos EUA,
sobretudo títulos do Tesouro, garantindo o financiamento do déficit comercial norte-americano. Assim, no
que se refere à Ásia, a desvalorização
do dólar deverá ter pouco impacto no
reequilíbrio das contas externas dos
EUA. A conta tenderá a ser acertada
com outros países, especialmente os
da União Européia.
As exportações da área euro já caíram 3% entre janeiro e outubro de
2003 em relação ao mesmo período
do ano anterior, prejudicando a incipiente retomada da economia européia. O BCE tem o recurso de reduzir
sua taxa de juros básica, diminuindo
a diferença entre as duas regiões. Pode ainda procurar coordenar uma intervenção no mercado cambial, com
o Fed e os bancos centrais asiáticos.
Há quem avente também, caso nada
disso ocorra, a possibilidade de uma
intervenção mais heterodoxa, como
a introdução de controles sobre os
fluxos de capitais na região se a valorização do euro for longe demais.
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