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CLÓVIS ROSSI
Autonomia para errar?
SÃO PAULO - Como é que alguém pode, em sã consciência, pensar em autonomia para o Banco Central se o
BC não acertou uma maldita previsão em 2003?
Para começar, a principal delas, relativa ao nível de atividade econômica: a previsão inicial (janeiro) era de
um crescimento de 2,8%. Caiu, anteontem, para 0,3%.
Significa que o BC previa um crescimento nove vezes superior ao que
imagina agora. Nove vezes. Se quem
faz as previsões trabalhasse em uma
empresa privada, estaria desempregado e, talvez, processado.
Vamos pôr números absolutos na
previsão. Se o PIB é de mais ou menos
R$ 1,1 trilhão, um erro de 2,5 pontos
percentuais, como o registrado, significa que não se materializou algo em
torno de R$ 25 bilhões em bens e serviços produzidos.
Ou, posto de outra forma, a política
monetária (juros) se fez em cima de
algo que estava muito longe de ser
real -e ajudou a causar a paralisia
econômica.
Não foi o único erro. Na balança
comercial (exportações menos importações), o erro foi de exatos 60%
(o BC esperava um saldo de US$ 15
bilhões; deu US$ 24 bilhões).
Em ingresso de investimentos estrangeiros, a mesma coisa: previsão
de US$ 16 bilhões, que, na realidade,
minguaram para entre US$ 9 bilhões
e US$ 10 bilhões.
Só em matéria de inflação o erro foi
pequeno (deveria ter sido de 9,5% e
acabou sendo de 9,1%).
A explicação do BC é que "o cálculo
do produto é, por definição, mais
complexo e menos preciso do que o
da inflação". Ora, o remédio para
manter a inflação sob controle (juro
alto, por exemplo) afeta a atividade
econômica também por definição.
Logo não é razoável aceitar que o responsável pela política monetária despreze tão alegremente a necessidade
de ter avaliações muito mais precisas
sobre o PIB.
A autonomia do BC só vai fazer aumentar tal alegre desprezo pelo essencial na vida das pessoas (a atividade econômica e, por extensão, o
emprego e a renda).
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