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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Governo em banho-maria
SÃO PAULO - Lula assume hoje
seu segundo mandato ancorado em
imensa aprovação popular. Aglutinou em torno de si uma base de
apoio balofa, que incorpora às legendas mensaleiras do primeiro
mandato e outras tantas nanicas os
profissionais do PMDB. São ao todo
dez partidos, do PP de Paulo Maluf
aos comunistas do PC do B.
A oposição, sem energia e sem
bandeiras, lembra o anti-herói de
uma canção de Cazuza e seu auto-flagelo -não é capaz de fazer mal
nenhum, a não ser a si mesma. Serra e Aécio, a quem caberia o contraponto ao poder imperial de Lula,
têm por ora mais no que pensar e
sabem que este não é ainda o ano de
confrontar o governo central.
Não há, além disso, nenhuma nuvem no horizonte da economia internacional. Misturados, os ingredientes são uma receita para o imobilismo. Somem-se ainda a eles a
vocação conservadora e avessa a
mudanças de Lula, já evidente no
primeiro mandato, e a total falta de
clareza e convicção do governo sobre o que fazer para que o país volte
a crescer a taxas mais expressivas.
O novo mandato começa em banho-maria, indefinido entre as forças que convidam à paralisia e a necessidade de destravar a economia.
Sem ministério novo e sem pacote,
Lula não dá sinais de pressa. O tempo, porém, é mais curto do que parece. A presidência imperial dura,
no máximo, até meados de 2008
-depois disso, as eleições municipais precipitarão o processo de sucessão do próprio Lula, quando devemos entrar num período de intensas disputas e incógnita política.
Lula herda de si mesmo um país
mais cínico do que era há quatro
anos. O PT capitulou à velha política e, uma vez flagrado, optou pela
auto-indulgência. O retorno de Berzoini à presidência do partido está
cercado de uma atmosfera sinistra.
Ele pode significar mais em termos
políticos do que uma posse marcada pelo signo do continuísmo.
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