São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Governo em banho-maria

SÃO PAULO - Lula assume hoje seu segundo mandato ancorado em imensa aprovação popular. Aglutinou em torno de si uma base de apoio balofa, que incorpora às legendas mensaleiras do primeiro mandato e outras tantas nanicas os profissionais do PMDB. São ao todo dez partidos, do PP de Paulo Maluf aos comunistas do PC do B.
A oposição, sem energia e sem bandeiras, lembra o anti-herói de uma canção de Cazuza e seu auto-flagelo -não é capaz de fazer mal nenhum, a não ser a si mesma. Serra e Aécio, a quem caberia o contraponto ao poder imperial de Lula, têm por ora mais no que pensar e sabem que este não é ainda o ano de confrontar o governo central.
Não há, além disso, nenhuma nuvem no horizonte da economia internacional. Misturados, os ingredientes são uma receita para o imobilismo. Somem-se ainda a eles a vocação conservadora e avessa a mudanças de Lula, já evidente no primeiro mandato, e a total falta de clareza e convicção do governo sobre o que fazer para que o país volte a crescer a taxas mais expressivas.
O novo mandato começa em banho-maria, indefinido entre as forças que convidam à paralisia e a necessidade de destravar a economia. Sem ministério novo e sem pacote, Lula não dá sinais de pressa. O tempo, porém, é mais curto do que parece. A presidência imperial dura, no máximo, até meados de 2008 -depois disso, as eleições municipais precipitarão o processo de sucessão do próprio Lula, quando devemos entrar num período de intensas disputas e incógnita política.
Lula herda de si mesmo um país mais cínico do que era há quatro anos. O PT capitulou à velha política e, uma vez flagrado, optou pela auto-indulgência. O retorno de Berzoini à presidência do partido está cercado de uma atmosfera sinistra. Ele pode significar mais em termos políticos do que uma posse marcada pelo signo do continuísmo.


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