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FERNANDO RODRIGUES
Lula e o ritmo da democracia
BRASÍLIA - Luiz Inácio Lula da
Silva toma posse hoje como presidente reeleito. Passou quatro anos
no Palácio do Planalto. Essa foi a
sua maior realização. Tudo começa
e termina na política.
O Brasil entra hoje na pré-adolescência da democracia representativa. As regras políticas relativamente claras e estáveis só vieram com a
eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994. De lá para cá, meros
12 anos. Apenas um grão de areia na
história.
Nunca é demais lembrar que em
1º de janeiro de 2003 deu-se um
gesto que não ocorria há 42 anos no
país: um presidente eleito pelo voto
direto (FHC) passando a faixa presidencial para outro escolhido da
mesma forma (Lula). A vez anterior
havia sido com JK entregando o
cargo para Jânio Quadros.
No início da democracia representativa nos Estados Unidos, a vida por lá também era um faroeste.
Presidentes eram assassinados. As
regras estavam ali para serem alteradas. "Muitos americanos consideram a instabilidade das suas leis
como conseqüência necessária de
um sistema cujos efeitos gerais são
úteis. Mas não existe ninguém,
creio eu, nos Estados Unidos, que
pretenda negar que essa instabilidade existe ou que não a encare como um grande mal", escreveu Tocqueville há quase dois séculos.
Os americanos se assentaram.
Construíram talvez uma nação com
muitos defeitos, dada ao belicismo.
Mas é inegável a relevância dos 200
anos de democracia para transformar aquele país no mais próspero
do planeta.
Lula já chegou a falar nas facilidades para aprovar reformas quando
inexistem liberdades políticas. Ambíguo, mas pode ter sido só uma
boutade, inconseqüente. O "duplipensar", sabe-se, é a marca do lulismo. O desafio do petista é passar
mais quatro anos no Planalto e permitir que a democracia siga o seu
ritmo. Será seu maior legado.
frodriguesbsb@uol.com.br
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