UOL




São Paulo, sábado, 01 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECORDE FUNESTO

A polícia do Estado de São Paulo bateu mais um funesto recorde. No ano passado, 610 civis morreram em confronto com policiais civis e militares, o maior número desde que as estatísticas começaram a ser produzidas, em 1996. Em relação a 2001, houve um aumento de 32,8% nos óbitos, segundo dados oficiais da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.
Também é sintomático que menos civis tenham saído feridos dos enfrentamentos. Em 2002, eles foram 420, contra 459 no ano anterior. Isso significa que a polícia também está se tornando mais letal.
Os números paulistas são elevadíssimos sob qualquer ângulo que se analise. Para efeitos de comparação, as instituições policiais dos EUA, juntas, mataram 297 civis ao longo de 2000. Nesse mesmo ano, a polícia paulista matou praticamente o dobro: 595. O detalhe é que a população dos EUA é sete vezes maior do que a de São Paulo.
Como sempre ocorre nessas situações, a polícia tenta justificar o crescimento dos homicídios afirmando que ele é o resultado da eficiente resposta da corporação à crescente sofisticação dos bandidos. Estes estariam perpetrando ações cada vez mais audaciosas e usando armamento cada vez mais pesado. Nesse caso, segundo especialistas, a taxa de policiais mortos deveria ter subido. Não foi o que ocorreu. Em 2002, o número (59) ficou praticamente estável em relação a 2001 (58).
Existe um fator externo que pode ter tido alguma influência sobre os números. E é um elemento até certo ponto surpreendente: a eleição para o governo do Estado. Os três principais concorrentes reforçaram em seus espaços na TV e no rádio a idéia, infelizmente cada vez mais popular, de que "bandido bom é bandido morto". O policial, que já tende a concordar com esse tipo de abordagem, pode ter equivocadamente interpretado o tom da campanha como uma licença para matar. Infelizmente, boa parte dos policiais parece ainda não ter aprendido a diferença entre eficiência e violência.


Texto Anterior: Editoriais: TUDO PELO DÓLAR
Próximo Texto: Editoriais: RECUPERAÇÃO AMEAÇADA

Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.