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CLÓVIS ROSSI
A Europa inútil
BRUXELAS - É bem um sinal dos tempos: a Europa conseguiu superar séculos de disputas e incontáveis guerras para chegar, com menos traumas
do que parecia possível, à unidade
monetária.
Mas não consegue a unificação política que lhe permitiria ter uma política externa comum e influente, como contraponto eventual aos Estados Unidos.
Ou posto de outra forma: para fazer
negócios, superam-se divisões e sangue e adota-se uma moeda que facilita o "business".
Mas, para fazer política, a divisão
continua, especialmente quando se
trata de enfrentar a única superpotência remanescente. Tanto que cinco dos 15 países da União Européia
assinaram o manifesto a favor do
ataque ao Iraque, ao passo que os outros dez ou mantêm resistências ou
são francamente contra.
Como o resto do mundo não conta,
só a Europa, se fosse de fato um conglomerado unificado, poderia servir
de contraponto ao crescente delírio
norte-americano.
Fraturada como está, fica ela também reduzida ou à impotência ou ao
papel de caudatária dos Estados Unidos, ao qual, aliás, se prestam alegremente alguns governos europeus, como o de Tony Blair (Reino Unido) e
José María Aznar (Espanha).
Com isso, permite-se a criação de
um cenário em que um país toma o
direito de decidir o que fazer no mundo sem precisar exibir as evidências
de que o lado contrário pratica o crime de que é acusado.
No caso do Iraque, a acusação é a
de posse de armas de destruição em
massa. Mas, no discurso do primeiro
ano do 11 de setembro, o próprio presidente George W. Bush dissera: "A
única vez em que poderemos ficar
absolutamente seguros de que ele
[Saddam Hussein" dispõe de armas
nucleares é quando, Deus não o permita, ele usar uma".
Ninguém quer esperar para ver,
claro, mas também não parece lá
muito civilizado que um só país decida como e quando entrar atirando.
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