São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Agricultura, emprego e desenvolvimento

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou existir cerca de 180 milhões de pessoas totalmente desempregadas no mundo. O crescimento americano vem sendo feito sem expansão do emprego. Na Europa, o desemprego se mantém alto -cerca de 9%. Em São Paulo, 20% estiveram desempregados em 2003.
Dentre as inúmeras causas do problema, há duas que saltam aos olhos. A primeira diz respeito ao fantástico aumento de produtividade conseguido em decorrência da introdução de tecnologias modernas, que permitem produzir mais com menos trabalho. A segunda, exacerbada no Brasil, se refere à redução dos investimentos produtivos em favor das aplicações especulativas.
Os dois fenômenos estão em franco andamento entre nós. Mas, enquanto a modernização tecnológica é inexorável, a especulação é dispensável. Basta oferecer alternativas produtivas mais atraentes do que as especulativas.
Onde estão essas alternativas? Penso que, no caso do Brasil, os setores da agricultura e do agrobusiness são os mais promissores, com capacidade de fazer rodar toda a economia de forma a se chegar ao tão sonhado desenvolvimento sustentável.
O mercado internacional é francamente comprador de produtos agropecuários, in natura e industrializados, e continuará assim por muito tempo. As grandes populações do mundo são carentes de alimentos. Basta verificar que só a China terá de importar cerca de 300 milhões de toneladas de grãos por muitas décadas. Aliás, toda a Ásia precisa de comida -sem falar nos importadores tradicionais do mundo desenvolvido. O Brasil é um dos únicos países que podem enfrentar, com sucesso, esse enorme desafio.
Ora, com a extensão de terra que temos, as benesses de sol, clima, fertilidade e a enorme quantidade de água que Deus nos deu, aliadas aos avanços da pesquisa agropecuária, colocam nosso país em situação extremamente favorável para erguer uma grande nação a partir da agricultura e do agrobusiness e sem comprometer o ambiente -o Brasil responde por apenas 1,5% das emissões de carbono do planeta, uma das mais baixas do mundo.
Mas há problemas a superar. Um deles é a restauração da paz no campo. Os movimentos de invasão de terras e a frouxidão do governo na garantia dos direitos de propriedade dão margem ao crescimento meteórico do clima de medo e tensão que rodeia as fazendas brasileiras. Isso não pode continuar.
O Brasil tem tudo para fazer o campo irradiar a energia que vai ativar a economia como um todo e garantir para os brasileiros um bom nível de emprego. Está na hora de acabar com a violência e o desrespeito na zona rural antes que eles acabem com a potencialidade da agricultura na sustentação do nosso desenvolvimento.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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