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CARLOS HEITOR CONY
Elefantes e vacas
RIO DE JANEIRO - Como todo mundo, fiquei impressionado com o desfile a que o presidente Lula assistiu na
Índia. Em matéria de carros alegóricos, eles têm muito a aprender com o
Joãosinho Trinta e com os nossos
banqueiros do bicho, que dão aquela
mão providencial na hora de produzir os colossos de ouro e prata que vemos anualmente nos sambódromos
da nação.
Mas gostei igualmente dos elefantes, que, desde os tempos de Aníbal,
faziam parte do material bélico. Com
seus elefantes, o bravo general cartaginês assustou o Império Romano.
Não creio que os elefantes da Índia de
hoje assustem o resto do mundo, mas
aquelas ogivas nucleares, aqueles foguetes assombrosos, esses, sim, fazem
um frio na alma e na espinha de todos nós.
O que esperar de um país que pode
dispor ao mesmo tempo de parrudos
elefantes e de não menos parrudo arsenal de destruição em massa?
Ainda bem que os indianos têm fama de serem contemplativos, chegados à meditação, adotam uma filosofia que nos parece tranqüila, embora
a história local não seja lá essas coisas em matéria de paz espiritual e
material.
Não temos diferenças substanciais
com os indianos, embora nossas relações comerciais, segundo li nos cadernos de economia de nossa imprensa,
sejam insignificantes. Podemos trocar macacos por elefantes, entidades
portentosas que só conhecemos de
circo e de elefantes brancos que os governos volta e meia mandam construir por aí.
Podemos também exportar o citado
Joãosinho Trinta para incrementar o
lado carnavalesco dos desfiles indianos, trocando-o por um daqueles
mísseis que me parecem mais eficientes do que o nosso foguete que estourou em Alcântara.
De qualquer forma, começa a despontar na história universal a superioridade do Oriente sobre o Ocidente. Na Índia, as vacas são sagradas.
Nos Estados Unidos, as mesmas vacas são loucas.
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