São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2001

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ARGENTINA EM TRANSE

O processo de desgaste da economia argentina, acompanhado de dificuldades políticas do governo De la Rúa, assumiu nas últimas semanas maior gravidade. Neste momento, o país está praticamente fora do mercado de crédito, tal é a elevação do risco argentino.
Depois de alertas lançados por instituições financeiras, economistas e agências de classificação de risco, o desconforto é agora assumido pelos principais empresários argentinos.
Apesar da "blindagem" financeira obtida pela Argentina de bancos e organismos como o Fundo Monetário Internacional -uma linha de crédito que soma quase US$ 40 bilhões-, a promessa de fazer a economia voltar a crescer não se cumpriu.
A rigor, sobrou muito pouco da antiga elite econômica argentina, deslocada pela internacionalização da estrutura produtiva, acompanhada por forte desindustrialização. Mas os poucos grupos econômicos locais que restaram encontram ainda alguma força para protestar.
O Conselho Empresarial Argentino, recebido pelo presidente De la Rúa e pelo ministro da Economia, José Luis Machinea, colocou a questão num tom dramático: "Se não há atividade econômica, não se geram empregos e não há mercado".
Após 30 meses de recessão e com acesso limitado ao mercado brasileiro depois da desvalorização do real, as empresas argentinas enfrentam novas e mais sérias dificuldades.
A crise é tão severa que a própria moeda, equiparada ao dólar, corre riscos. Incapaz de promover uma desvalorização (dado o peso e a disseminação de dívidas em dólar), o governo pode ser tentado a adotar a dolarização pura e simples.
Tal hipótese, se concretizada, abalaria fortemente o projeto de uma integração monetária no Mercosul.
Para o Brasil, esse desfecho não seria catastrófico, mas sem dúvida aumentaria muito o risco regional e sobretudo a vulnerabilidade do país às pressões, vindas dos EUA, em favor da aceleração da Alca.


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