São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2001

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Até logo, Brasil

ANTHONY S. HARRINGTON

Minha mulher, Hope, e eu estamos retornando para a nossa casa, a nossa família e os nossos amigos após uma estadia muito agradável e recompensadora na Embaixada dos EUA no Brasil, incluindo aí uma transição rápida, mas frutífera, com o nosso novo governo, em Washington. Cheguei aqui com a missão de alçar ainda mais o relacionamento entre o Brasil e os EUA. Não poderia estar mais satisfeito com o progresso que fizemos juntos.
Como expresso no comunicado dos presidentes sul-americanos, após a cúpula de setembro de 2000, realizada aqui sob o patrocínio do presidente Fernando Henrique Cardoso, temos uma agenda comum: o fortalecimento da democracia, a promoção do livre comércio e da oportunidade econômica e o combate aos narcotraficantes e a outras ameaças à segurança pública.
Nos EUA, essa agenda tem um apoio bipartidário surpreendentemente forte, tanto do governo quanto do Congresso.
O nível de engajamento foi muito além do que eu poderia imaginar. Nossos secretários de Estado e da Defesa estiveram aqui e os ministros brasileiros das Relações Exteriores e da Defesa viajaram a Washington, da mesma forma que muitos outros ministros e autoridades de alto escalão. São muitos os exemplos das realizações conjuntas: o apoio à democracia no Peru e na Colômbia, a efetivação de uma grande reforma fiscal nas Nações Unidas, o rastreamento dos bens do juiz Nicolau dos Santos Neto e a prisão de Shalom Weiss, um dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI.
Demos início a um importante programa de estudos norte-americanos na USP e estendemos a parceria bilateral para a educação. Apoiamos projetos-chave na prevenção da Aids, no auxílio a crianças em risco e na área da saúde da mulher. Autorizamos o uso de tecnologia americana no lançamento de satélites da Base Espacial de Alcântara.
Nos últimos dias, o ministro Celso Lafer e eu formalizamos o Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal; entreguei ao ministro Quintão e à Marinha o título de propriedade de seis bons navios de guerra e pude informar pessoalmente ao presidente Fernando Henrique, na última sexta, que a secretária de Agricultura dos EUA, Ann Veneman, havia suspendido a proibição temporária à carne brasileira.


Confio em que a Alca continuará a tomar forma, com o Brasil e os EUA co-presidindo o importante estágio final
Talvez mais importante do que esses detalhes, ambos os governos concordam que a confiança, a compreensão e a cooperação nunca foram tão elevadas.
Já iniciamos reuniões semestrais entre o nosso Departamento de Estado e o Ministério das Relações Exteriores. Nossas diferenças parecem relativamente pequenas e, na sua maioria, confinadas a assuntos de comércio -apesar de esses capturarem uma atenção desproporcional da cobertura da imprensa. Como um ex-embaixador brasileiro nos EUA disse, as únicas nações que não têm disputas comerciais são aquelas que não comerciam.
Os desacordos não distorcem a nossa cooperação geral e, apesar desses desacordos, observei que as exportações brasileiras para os EUA cresceram duas vezes mais rápido do que para o resto do mundo, no ano passado. E nosso comércio bilateral de US$ 26 bilhões está praticamente equilibrado.
Para melhorar ainda mais o nosso ambiente comercial, tenho confiança em que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) continuará a tomar forma, com o Brasil e os EUA co-presidindo o importante estágio final. Acredito que a Alca trará ao Brasil os mesmos tipos de benefício que o México teve durante os primeiros cinco anos do Nafta. Reconhecemos que o acordo eventual deve ser mutuamente benéfico e que haverá necessidade de transições razoáveis em alguns setores dos dois países. O Mercosul também continuará a desempenhar um papel vital na promoção do livre comércio e na estabilidade econômica e política da região.
Vou embora com grande otimismo quanto ao futuro do Brasil e ao nosso relacionamento bilateral. Nós, nos EUA, admiramos grandemente o extraordinário progresso que o Brasil fez, nos últimos anos, nas reformas fiscal e institucional. Sei que o presidente Fernando Henrique pretende intensificar o foco sobre educação e previdência. Ele e o Congresso prepararam o terreno ao pôr fim à inflação galopante, construindo a estabilidade econômica.
Durante recente viagem a 13 Estados, ouvi, quase que unanimemente, tanto de empresários brasileiros quanto de americanos, bem como de prefeitos, que o Brasil deve prosseguir com a reforma tributária. Desejo, ainda, sucesso ao governo no aprofundamento da reforma política.
O presidente Bush conclamou um novo "século das Américas". Após as discussões entre o ministro Lafer e o secretário Powell, esta semana, o presidente Fernando Henrique visitará Washington (dia 30 de março, a convite do presidente Bush). Estou confiante na criação de um forte vínculo pessoal, que fortalecerá o diálogo entre Brasil e EUA.
Depois de retornar à minha casa, em Maryland, pretendo continuar a fazer o que estiver ao meu alcance para aprofundar as fortes relações entre nossos dois grandes países, tanto em termos governamentais quanto privados.
Apesar de meu tempo como embaixador ter terminado, conforme é normal em qualquer mudança de administração, Hope e eu nunca deixaremos completamente o Brasil. Podem esperar nos ver aqui de tempos em tempos, prosseguindo, do âmbito privado, o importante trabalho que fizemos juntos.
Apresentamos nossa profunda gratidão ao governo e ao povo do Brasil a cooperação excepcional e a calorosa hospitalidade que tivemos.
Até logo, Brasil.


Anthony S. Harrington deixou ontem o cargo de embaixador dos EUA no Brasil.




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