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FOME NA RIQUEZA
O governo federal e o Estado de Mato Grosso do Sul devem ser responsabilizados por omissão no episódio das mortes, causadas por desnutrição, de crianças indígenas da comunidade caiuá. O primeiro caso letal ocorreu no dia 11 de
janeiro. Todavia, apenas no último
final da semana chegaram à área três
médicos e quatro nutricionistas.
O Ministério do Desenvolvimento
Social criou em 2003 o programa Fome Zero Indígena, com gestão a cargo dos Estados. O governo matogrossense-do-sul desde então gastou
apenas R$ 1 milhão dos R$ 5 milhões
que lhe foram repassados.
Tem-se a impressão de que o repasse é tratado pelo governo federal
de modo burocrático -quando programas sociais precisam ser acompanhados e avaliados de perto e de
maneira sistemática. É inaceitável
que crianças morram de desnutrição
sem que essa possibilidade fosse detectada com antecedência para que
se tomassem as medidas adequadas.
O governo de Mato Grosso do Sul
também deve explicações. É impossível levar a sério a tentativa de atribuir a culpa pelas mortes aos próprios índios, que resistiriam a submeter suas crianças a tratamento.
O episódio não deixa de ser mais
uma lição no caminho tortuoso que
o governo federal vem trilhando em
suas iniciativas de combate à fome
-bandeira eleitoral do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
O país já assistiu ao bombástico
lançamento do Fome Zero e à sua diluição no programa Bolsa-Família.
Assistiu também equívoco numérico
cometido pelo governo federal ao
considerar que 44 milhões de pessoas viveriam no país em "estado de
insegurança alimentar" -número
que uma pesquisa do IBGE derrubou
há pouco mais de três meses.
Agora, o Brasil assiste a essa tragédia tão emblemática de suas agudas
contradições: crianças indígenas
morrem de fome no Estado que é um
dos celeiros de nossa rica produção
de alimentos -e isso em pleno alvorecer do século 21.
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