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CLÓVIS ROSSI
Igreja e capitalismo
ROMA - Li com a atenção de sempre o belo artigo que Carlos Heitor Cony
publicou domingo nesta Folha, falando bem (muito bem, aliás) da
Igreja Católica.
Confesso que, como católico cada
vez mais bissexto, tenho bem menos
fervor que Cony, mas, crenças à parte, a sabedoria convencional me obriga a reconhecer que uma instituição
que sobrevive há 2.000 anos (2005
para ser preciso) é uma potência, independentemente de seus erros -até
crimes, que os houve.
Pragmático como fui me tornando
crescentemente, assim como, suspeito, boa parte do leitorado, fico me
perguntando de onde provém a fortaleza da igreja. Afinal, como já perguntou Napoleão, "quantas divisões
tem o papa?". Nenhuma, exceto a
Guarda Suíça, que seria absolutamente incapaz de defender o Vaticano de um ataque terrorista (ou mesmo convencional, no pressuposto de
que houvesse alguém interessado em
invadir o micropaís do papa).
A força da igreja, excluídas as divisões que não possui, só pode vir, portanto, de idéias, conceitos, preceitos e,
claro, da fé.
Suspeito que seja justamente esse o
desafio para o próximo papa. Idéias e
conceitos da Igreja Católica estão
crescentemente sendo postos em
questão pela ciência, pela cultura ou
por ambas. A própria fé parece estar
em crise, a julgar pelo decréscimo
brutal do número dos que dizem freqüentar a igreja, em toda parte.
Uma coisa é enfrentar o comunismo e ajudar a levá-lo ao colapso, como fez João Paulo 2º. Apoiava-o uma
porção considerável da humanidade,
a julgar pelo fato de que o colapso foi
absolutamente incruento.
Outra coisa, bem mais complicada,
é enfrentar as pesquisas com células-tronco. Trata-se, guardadas as proporções, de regressar a um dos combates perdidos pela igreja, contra Galileu Galilei (leia-se ciência).
Ou, posto de outra forma, a igreja
está mais ou menos como o capitalismo: venceu claramente o comunismo, mas tem de provar, agora, que é
capaz de ajudar a maioria da humanidade a viver melhor.
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