|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Para a frente, Brasil!
VIVA! TROCARAM de termômetro e o doente melhorou.
Usando uma nova metodologia, o IBGE descobriu que, em
2006, crescemos 3,7%, e não 2,9%.
Muito bom, mas ainda continuamos a ocupar os últimos lugares na
América Latina.
As boas notícias sempre vêm
acompanhadas de maus presságios. Neste caso, tivemos dois.
O primeiro nos conclama para
uma grande dose de cautela antes
de comemorar a nova descoberta.
Sim, porque nesse maior PIB teve
grande peso a incorporação da Cofins nos preços dos bens e serviços
e o crescimento dos gastos do governo. Melhor seria se o resultado
tivesse decorrido de um aumento
efetivo da produção de bens do setor privado e de um encolhimento
da burocracia e das despesas públicas. Em 2006, o crescimento da indústria de transformação foi de
apenas 1,6%.
O segundo nos informa que a taxa de investimentos produtivos do
Brasil em 2006 (16,8%) foi bem
menor do que os 20% ou 21% que
se alardeava até então, que, aliás, já
eram insuficientes para o tamanho
e as necessidades do país.
A combinação dessas duas notícias mais preocupa do que alegra.
Com investimentos reduzidos,
pouco se pode esperar em termos
de um crescimento sustentado e de
uma grande geração de empregos
para os próximos anos.
Pior. Se o consumo continuar
crescendo -o que é bom- por força de injeções assistencialistas de
dinheiro público no bolso dos consumidores -o que é ruim-, vamos
nos defrontar com um dilema conhecido e já vivido pelo Brasil: a
oferta será insuficiente para atender a demanda.
Todos sabem as conseqüências
desse desequilíbrio: inflação, agiotagem, sonegação de produtos e
outras práticas abomináveis, das
quais, a duras penas, conseguimos
nos livrar nos últimos dez anos.
Nesse caso, o Banco Central terá
todos os motivos para manter os
juros altos ou, quem sabe, até elevá-los, dando um sonoro adeus ao
desejado crescimento.
Essa é a leitura que faço do novo
termômetro. É como a criança raquítica -não havia como engordar- que, colocada em nova balança, alegra os pais por mostrar mais
uns quilinhos. Porém, ao encontrar o médico, os pais ficam sabendo que a capacidade respiratória da
criança está aquém de suas necessidades, o que comprometerá o seu
crescimento futuro.
Seria bom se, em lugar de festejar a troca de termômetros, estivéssemos comemorando a realização efetiva (e não promessas) de
investimentos produtivos. Essa
noticia será bem melhor do que a
revelada pelo novo termômetro.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tempo de sangue Próximo Texto: Frases
Índice
|