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CLÓVIS ROSSI
O morto-vivo se mexe
SÃO PAULO - As mexidas ontem
anunciadas pela secretaria norte-americana do Tesouro caracterizam o primeiro sinal de vida do Estado desde a queda do Muro de Berlim. O on-line de "El País" (Espanha) recua ainda mais no tempo para cravar que se trata da "maior reforma dos mercados desde a Grande Depressão", aquela que se seguiu
ao "crash" de 1929.
É cedo para saber se o pacote será
capaz de resolver, ou ao menos atenuar, a crise financeira que afeta os
Estados Unidos e repercute na Europa e, em bem menor medida, em
outros países. A análise técnica fica
para os especialistas.
Do ponto de vista político, marca,
claramente, alguma inflexão no
"laissez-faire" cada vez mais absoluto que foi tomando conta do
mundo desde que o Muro de Berlim
caiu sobre a cabeça do intervencionismo estatal, cujos apóstolos nunca mais conseguiram sair com vida
inteligente dos escombros.
A partir daí, tornou-se virtualmente consensual que o Estado-empreendedor era um redondo fracasso. Mas deu-se também um passo adicional, o de supor que a incapacidade do poder público estendia-se à regulamentação, à vigilância da atividade econômica, em especial a financeira, e até à formulação de políticas.
De alguma forma, evidentemente
suave, o secretário do Tesouro,
Henry Paulson, admite as amarras
impostas ao Estado ao dizer, na justificativa do pacote de ontem, que
"a estrutura de regulamentação
atual não está construída para fazer
frente ao sistema financeiro moderno, com seus diversos atores,
sua inovação, a complexidade de
seus instrumentos financeiros e a
globalização".
Demoraram para ver o óbvio.
Falta agora saber se o Estado regulador consegue se sobrepor ao mercado ou se se tornou definitivamente menor que ele. Se ficou menor, o
quase-pânico de agora pode virar
tragédia amanhã ou depois.
crossi@uol.com.br
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