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CARLOS HEITOR CONY
Arapongas oficiais
RIO DE JANEIRO - Para quem trabalha todos os dias, o Dia do Trabalho é um pleonasmo. Por isso mesmo, por
ser data óbvia, vou comemorá-la
com uma crônica aleatória -desconfio que todas elas o sejam.
Semana passada, latinistas de vários quilates corrigiram o título de
uma crônica minha: ""Quid prodest?"
. O certo, segundo eles, seria o dativo
""cui prodest?".
Acontece que, propositadamente,
eu não me referia a ninguém. Não interrogava a quem interessa a violação do painel eletrônico do Senado, e
sim, o que no episódio interessa. É
uma pergunta impessoal. Não se refere a nenhuma entidade física, mas à
entidade jurídica do poder. Os assessores palacianos, uns pelos outros e
em diferentes níveis, são arapongas
sofisticados. Precisam conhecer as
entranhas do Congresso para projetar a estratégia do governo. É isso o
que interessa, o ""quid prodest".
Aproveito estar com a mão na massa para, mais uma vez, esclarecer que
não demonizo pessoas. Dentro das
minhas limitações, procuro separar o
pecador do pecado. O único pecador
que eu conheço -e por quem peço
perdão- sou eu próprio: eu, pecador.
O episódio do painel eletrônico, já o
disse aqui, em si é irrelevante. Os responsáveis pela gravação, todos, sem
exceção, merecem o constrangimento
por que estão passando. Cometeram
uma falta que exige reprovação.
Mas todos eles agiram, direta ou indiretamente, para beneficiar o poder,
alimentando-o com informações que
podem ser obtidas por delações pessoais ou por meios eletrônicos: gravações, escutas telefônicas, estupro de
computadores pessoais e painéis coletivos.
No caso Watergate, ficou claro que
todas as barreiras morais são ultrapassadas pela fome de informações.
Quanto mais secretas, mais valiosas.
O que interessa ("quid prodest")
não são os pecadores que passam,
mas o pecado que fica, que pretende
tornar o poder cada vez mais poderoso.
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