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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Uma visita
ao México
Dois dias de discussão no México
com o presidente Fox e com seus
colaboradores revelam um governo
que descobre a diferença entre ganhar
a admiração dos americanos e dos europeus e conseguir desenvolver e democratizar o México. A eleição de Fox,
um momento de ressurreição nacional, impôs ao país e a seu governo uma tarefa para cuja execução escasseiam tanto idéias claras quanto forças
organizadas.
O projeto empunhado pelo presidente e por seus ministros mais arrojados tem três vertentes: armar a cidadania com meios para fazer guerra
contra o clientelismo e a corrupção,
promover uma revolução no ensino
público que entusiasme e capacite o
país e reorientar o crescimento econômico, ampliando a sua base social e o
seu potencial produtivo.
Organizações da polícia e do Ministério Público, espalhadas por todo o
país, receberiam denúncias de corrupção e passariam a investigá-las,
com independência do governo. Centros de assistência jurídica popular dariam aos mexicanos os recursos para
conhecer e defender seus direitos.
Na educação, não basta universalizar a escola secundária. É preciso,
também, substituir a decoreba por um
ensino seletivo, analítico e capacitador. Impõem-se um programa maciço de treinamento de professores e
um federalismo flexível. União, Estados e municípios se associariam para
vigiar e cumprir mínimos de investimento por aluno e de desempenho
por escola.
Na economia, trata-se de superar o
modelo "maquilador" das indústrias
montadoras, com pouco de componente mexicano ou de vínculo com o
resto do sistema produtivo. Reinventar um processo de substituição de
importações que multiplique oportunidades e que seja compatível com a
abertura para o mundo. E empregar a
parte mais pobre da população em
grandes frentes de trabalho que associem o governo com a iniciativa privada na construção de casas, escolas e
estradas.
Acuado pela desaceleração da economia americana, Fox sabe que terá
de virar Roosevelt para não acabar como Hoover. Seu drama, porém, é não
contar com uma crise grave o bastante
para forçar o México a abandonar a
mediocridade.
Os aliados potenciais são as dezenas
de milhões de mexicanos que, à margem de uma estrutura corporativista
decadente, aspiram à condição de pequenos empreendedores e trabalhadores qualificados. É preciso organizá-los em torno das iniciativas em
economia e educação. E criar um partido de centro-esquerda que sustente
o novo rumo e provoque a rearrumação de todo o espaço partidário.
No gabinete do presidente, o retrato
de Madero -profeta e mártir da Revolução Mexicana- lembra a fragilidade de qualquer projeto que não se
apóie numa idéia que a nação compreenda, compartilhe e defenda. De
todos os milagres de que precisa o México, o mais importante é a transformação das consciências por uma visão do futuro nacional.
Um grande país se pode construir
com 95% de pragmáticos entre seus
quadros dirigentes. Não com 100% de
pragmáticos. Os 5% de visionários fazem falta ao México -e ao Brasil.
Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nesta coluna.
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