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ANTONIO DELFIM NETTO
Mercosul:
esta é a hora
No mundo latino-americano, a
Argentina e o México se caracterizaram por terem excelentes escolas
de economia -muito antes de as termos organizado entre nós. No final
dos anos 40 e início dos 50, estavam
mais avançadas e mantinham intensa
cooperação com as universidades
americanas e européias. Não é de estranhar, portanto, que disponham de
bons e imaginativos economistas.
É o caso, por exemplo, do sr. Roberto Lavagna, que agora assume o arriscado cargo de ministro da Economia
da Argentina. Formou-se pela Universidade de Buenos Aires em meados
dos anos 60 e foi estudar na Bélgica. Isso fala a favor de um entendimento
mais correto da realidade argentina
do que têm os economistas fabricados
em universidades americanas, onde se
desenvolve como "ciência econômica" um formidável senso estético...
O sr. Lavagna faz economia política.
Em 1996, publicou na "Revista de Comércio Exterior" nš 49 um magnífico
artigo, cuja introdução merece ser
transcrita: "Se a ciência econômica
não conseguiu converter-se em totalmente "objetiva" e depende fortemente
de hipóteses e de posições no campo
dos valores muitas vezes prolixamente dissimulados, a política econômica
não conseguiu, tampouco, deveria dizer, menos ainda, tornar-se independente de interesses concretos. Quando
uma determinada política econômica
contempla interesses dominantes, será vista e proclamada como "sound
economic policy" (política econômica
correta). Quando, além disso, ela implica modificação de certas tendências, hábitos ou estruturas do passado,
será rapidamente definida como uma
"mudança profunda" e até como uma
"revolução". Se, adicionalmente, obtém respaldo eleitoral, estamos diante
de um "milagre" econômico. No entanto todas essa qualificações, particularmente as duas últimas, têm um alto
grau de provisoriedade. Argentina e
Chile, no início dos 80, e México pós-Salinas de Gortari/Aspe, no final de
94, são exemplos vivos disso. A Argentina pós-Cavallo caminha para ser
outro exemplo. O que até então eram
prognósticos, começa a se tornar uma
evidência" (em 1996!).
Vale a pena ler o artigo para entender como pensa o seu autor. Ele termina assim: "O Mercosul não foi a causa
de problemas em cada um dos países
membros, ao contrário, foi e continuará sendo parte da solução de problemas estruturais que adquirem uma
nova dimensão em uma economia em
processo de globalização".
O sr. Lavagna publicou também, em
parceria com o competente e diligente
economista do BNDES Fabio Giambiagi, um interessante trabalho
-"Hacia la Creación de uma Moneda
Común: Una Propuesta de Convergencia Coordinada de Politicas Macroeconomicas en el Mercosur"-,
em que reafirma a sua convicção.
Talvez seja este o momento de o Brasil aproveitar a oportunidade para dar
uma mão forte à recuperação da Argentina. Deveríamos tomar alguns riscos no setor exportador, pressionar os
organismos internacionais e avançar
definitivamente na consolidação do
Mercosul. O momento é mais do que
propício. O ministro Sergio Amaral, o
ministro Lavagna e o nosso grande
embaixador Botafogo Gonçalves podem ajudar a mudar o quadro desolador que hoje atinge o Mercosul.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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