São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES É hora de prestar contas
JOÃO ANTÔNIO FELÍCIO
Se alguém tinha dúvida da natureza sinistra desse projeto na sua forma plena, basta olhar para uma parte dele, que ora tramita no Senado e torna as leis trabalhistas, simplesmente, dispensáveis. Iniciativa que, se implementada, ameaça deixar os trabalhadores sem amparo legal. Não há dúvidas de que as maiores vítimas serão, de novo, os que engrossam as estatísticas da miséria nacional. Em nome dos 21 milhões de trabalhadores que representa, a CUT quer explicações públicas dos governantes sobre esses dados -e sobre tantos outros- do IBGE e do Dieese, que mostram o mercado de trabalho avançando para a informalidade quase total, a cada dia um adversário mais forte do jovem, da mulher, dos que têm mais de 40 anos, do pai ou da mãe de família que são obrigados a residir na periferia, do negro e do deficiente físico. Quer que seja explicitado, de uma vez por todas, por que o Brasil foi posto no rumo do desemprego, dos salários aviltados, das políticas monetária e fiscal que colocam o país abaixo de qualquer linha civilizada de distribuição de renda, da violência urbana sem limites, do crime organizado se agigantando -porque o Estado está encolhendo. Vale destacar que o Estado encolhe, notadamente, para os mais necessitados, com o sucateamento dos serviços de saúde e de educação, com a retirada de mecanismos de proteção contra a inflação para os assalariados, entre outros. Já o sistema financeiro, as empresas de distribuição de energia privatizadas, assim como as de telecomunicações, têm um Estado forte e atuante para garantir suas margens de lucros. Somos o país do capitalismo sem riscos, da socialização do prejuízo e da privatização do lucro. Em todos os países do mundo, governantes prestam contas. Os anos Fernando Henrique Cardoso, que o marketing presidencial batizou com o espetaculoso nome de "Era FHC", têm, como se vê, nome e sobrenome. É preciso parar, neste Dia do Trabalho, para pensar nos autores do grande flagelo que aparecerá nos textos, nos números, nas cenas e fotografias do universo do trabalho. É assim que se vai exercer a democracia que todos desejamos -e pela qual tantos de nós, nos locais de trabalho, no movimento social e sindical, lutamos. João Antônio Felício, 51, professor, é presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Foi presidente da Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Paulo Jobim: Prioridades em 2002 Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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