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INCOERÊNCIA RADICAL
Qual é o custo da incoerência
na política? A trajetória do governo Luiz Inácio Lula da Silva será
exemplar para que se possa estimá-lo, no caso brasileiro. Como revelou
esta Folha, Lula assinou um manifesto, há pouco mais de dois anos,
qualificando de "imoral" e "injusta"
a proposta da gestão FHC de instituir
cobrança previdenciária dos servidores públicos aposentados. Taxar inativos consta do projeto de reforma
previdenciária enviado ontem ao
Congresso pelo governo Lula.
Numa variação do mesmo tema, o
presidente exigiu, num almoço anteontem com a bancada parlamentar
petista, unidade a qualquer preço nas
votações no Congresso. O exemplo
que escolheu para amedrontar os
que porventura queiram dissentir
dessa diretriz não poderia ter sido
mais oportuno: o episódio, ocorrido
em 1984, que levou o PT a expurgar
três deputados que decidiram contrariar determinação do partido e votar a favor de Tancredo Neves nas
eleições indiretas para a Presidência.
Lula poderia ter associado a essa rememoração de fatos um pedido de
desculpas aos parlamentares expulsos. Afinal, eles optaram por singrar,
com quase duas décadas de antecedência, as mesmas águas do pragmatismo tático que hoje encontra em
Lula um defensor entusiasmado.
Pode-se facilmente concordar com
a tese de que, no passado, os parlamentares que optaram por Tancredo
como o candidato mais identificado
com os anseios de abertura democrática estavam certos e que a intransigência de Lula e da cúpula petista, à
mesma época, foi condenável. Analogamente, pode-se chegar à conclusão de que a política feita com adjetivos fundamentalistas, como o "imoral" e o "injusto" endossados por Lula em 2001, é incompatível com o
exercício da Presidência num país da
complexidade do Brasil.
Mas não é disso que aqui se trata.
Para além do que seja ou não razoável, uma mudança tão radical de posição quanto a de Lula e da cúpula
petista não há de passar sem consequências político-partidárias. Ou, senão, teremos de concordar com a infeliz formulação do presidente a respeito do tema: a de que, quando estava na oposição, o PT estava liberado
para o exercício ilimitado da bravata.
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