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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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INCOERÊNCIA RADICAL

Qual é o custo da incoerência na política? A trajetória do governo Luiz Inácio Lula da Silva será exemplar para que se possa estimá-lo, no caso brasileiro. Como revelou esta Folha, Lula assinou um manifesto, há pouco mais de dois anos, qualificando de "imoral" e "injusta" a proposta da gestão FHC de instituir cobrança previdenciária dos servidores públicos aposentados. Taxar inativos consta do projeto de reforma previdenciária enviado ontem ao Congresso pelo governo Lula.
Numa variação do mesmo tema, o presidente exigiu, num almoço anteontem com a bancada parlamentar petista, unidade a qualquer preço nas votações no Congresso. O exemplo que escolheu para amedrontar os que porventura queiram dissentir dessa diretriz não poderia ter sido mais oportuno: o episódio, ocorrido em 1984, que levou o PT a expurgar três deputados que decidiram contrariar determinação do partido e votar a favor de Tancredo Neves nas eleições indiretas para a Presidência.
Lula poderia ter associado a essa rememoração de fatos um pedido de desculpas aos parlamentares expulsos. Afinal, eles optaram por singrar, com quase duas décadas de antecedência, as mesmas águas do pragmatismo tático que hoje encontra em Lula um defensor entusiasmado.
Pode-se facilmente concordar com a tese de que, no passado, os parlamentares que optaram por Tancredo como o candidato mais identificado com os anseios de abertura democrática estavam certos e que a intransigência de Lula e da cúpula petista, à mesma época, foi condenável. Analogamente, pode-se chegar à conclusão de que a política feita com adjetivos fundamentalistas, como o "imoral" e o "injusto" endossados por Lula em 2001, é incompatível com o exercício da Presidência num país da complexidade do Brasil.
Mas não é disso que aqui se trata. Para além do que seja ou não razoável, uma mudança tão radical de posição quanto a de Lula e da cúpula petista não há de passar sem consequências político-partidárias. Ou, senão, teremos de concordar com a infeliz formulação do presidente a respeito do tema: a de que, quando estava na oposição, o PT estava liberado para o exercício ilimitado da bravata.


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