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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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PAINEL DO LEITOR

Cuba
"No seu artigo "Cuba, uma ilha à deriva" ("Tendências/Debates", pág. A3, 27/ 4), o senhor Saulo Ramos intenta levantar uma acusação gravíssima e particularmente infame contra o presidente de Cuba. Tudo baseado numa especulação ridícula e sem oferecer uma só prova. Seu artigo é um exemplo insuperável de calúnia vulgar e ignorância histórica. A afirmação de que "a revolução contra Fulgêncio Batista foi consentida (e financiada) por Washington" é indignante e muito reveladora dos conhecimentos sobre Cuba do senhor Ramos. A verdade é que o governo norte-americano apoiou até o último momento, com muito dinheiro e armas, o tirano cuja ditadura sanguinária assassinou 20 mil cubanos. O governo dos Estados Unidos também ofereceu refúgio aos torturadores e ladrões do regime de Batista, que levaram com eles todo o tesouro público cubano. Os sobreviventes e seus herdeiros são os que anseiam hoje, no mundo da Doutrina Bush, uma invasão de Cuba. É igualmente falso o que afirma sobre a recente decisão de tribunais cubanos de aplicar a pena capital num ato de crime hediondo extremamente perigoso, com grave risco de morte para dezenas de pessoas, inclusive crianças e idosos. A pena de morte existe, sim, na lei penal cubana, como também existe em dezenas de países no mundo tudo. Em relação a isso, gostaria de deixar bem claro que os tribunais cubanos obedecem à lei cubana, e não à de qualquer outro país. Considerando as suas responsabilidades passadas, o senhor Ramos deveria ter um pouco de pudor e abandonar tanta hipocrisia, fazendo bem melhor em se preocupar com as execuções extrajudiciais e instantâneas que acontecem cotidianamente em vários países de nosso hemisfério e do mundo, mas que em Cuba não ocorrem."
Jorge Lezcano Pérez, embaixador de Cuba no Brasil (Brasília, DF)

Cópia disfarçada
"Fernando Henrique Cardoso deixou sua marca com o famoso "esqueçam tudo o que escrevi". Depois que a Folha mostrou o manifesto assinado em 2001 por Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil, pág. A5, 30/4), qualificando a tentativa de cobrança de contribuição dos inativos como "injusta" e "imoral", dá-se ao governo atual a oportunidade de avançar naquilo que parece ser a sua maior vocação: copiar (de forma disfarçada ou não) os atos do governo anterior com a instituição do "esqueçam tudo o que assinei". Em tempo: eu votava em Lula desde 1989."
Ronaldo L. N. Pinheiro (Curitiba, PR)

Monetarismo biológico
"Mais uma vez, Roberto Mangabeira Unger acerta na mosca com suas observações sobre os equívocos brasileiros ("Duas ilusões ruinosas", pág. A2, 29/4). Só tenho uma ressalva a fazer, pois creio que o que ele chama de fiscalismo, na verdade, seja o monetarismo, espécie de praga parasita que suga a economia de países periféricos em proveito de especuladores nacionais e estrangeiros. Seus principais vetores são economistas metropolitanos e cosmopolitas que adoram luxo e riqueza e não têm nenhuma sensibilidade social. Esses vetores se desenvolvem em três estágios. No primeiro, são como ninfas acadêmicas. São geralmente custeadas com dinheiro público e manifestam idéias socialmente progressistas, mas só como forma de angariar alguma notoriedade e alcançar o enriquecimento pessoal. Na fase adulta, iludem governantes despreparados em matéria econômica induzindo-os a aceitar as políticas econômicas necessárias ao metabolismo patológico por meio do qual a seiva econômica do país -a renda- é sugada do sistema produtivo para o sistema financeiro-especulativo. No terceiro estágio, de simples vetores se transformam em agentes ativos dos organismos parasitários, tornando-se sócios-proprietários de instituições financeiras ou integrando os conselhos de administração de grandes bancos."
José Maria Alves da Silva (Viçosa, MG)

Oposição equivocada
"O editorial "O foco da crítica" (Opinião, 27/4), analisando o conflito entre Palocci Filho e Conceição Tavares, afirma que existem dois grupos com visões distintas sobre a política econômica a ser seguida: uns entendem que o problema fundamental a ser atacado seria o fiscal, outros, que seria o do desequilíbrio externo. Parece-me, porém, que essa classificação, embora mais sutil, repete a clássica e equivocada oposição entre ortodoxos e desenvolvimentistas. Equivocada porque há um terceiro grupo, que defende um novo desenvolvimentismo. Esse grupo afirma o óbvio: não existe contradição entre equilíbrio fiscal e externo. Assim, ao mesmo tempo que se busca eliminar o déficit público, deve-se impedir que o real volte a se valorizar -como está voltando a acontecer. Existe, portanto, uma terceira alternativa, que, aliás, é a única a evitar o desastre representado de um lado pelo populismo cambial e de outro pelo populismo fiscal."
Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista, professor da Fundação Getúlio Vargas (São Paulo, SP)

Imprensa
"Recomendaria ao sr. Olavo de Carvalho ("Telhados transparentes", "Tendências/Debates", 28/4) que não se servisse da imprensa de Brasília para endossar suas acusações contra o presidente Lula. Talvez ele não saiba, mas as últimas eleições no Distrito Federal foram incomparavelmente muito mais sujas do que as eleições presidenciais -mesmo considerando a hipótese de Lula estar envolvido no narcotráfico. Acredito que o sr. Carvalho, como bom liberal que é, não concorde com uma eleição em que a Justiça favoreceu amplamente um candidato e na qual voltou a existir o instrumento da censura. Lamento dizer ao sr. Carvalho, mas o veículo da imprensa mais independente aqui em Brasília é a Folha."
Thales Alessandro de Carvalho (Brasília, DF)

Fóruns específicos
"O vereador de Pedreira (SP) Mauro José Bozzi foi muito infeliz ao expressar a sua opinião na carta "Reforma dos radicais" ("Painel do Leitor", 30/4). Mesmo sem entrar no mérito da discussão, é possível encontrar no referido texto algumas incoerências e até mesmo contradições. 1) O vereador expressou sua opinião pessoal num espaço que, normalmente, é utilizado por petistas apenas para fazer esclarecimentos públicos ou para se defender de acusações infundadas. 2) É do conhecimento de muitos militantes que o edil não goza de condições técnicas (talvez nem políticas) para explanar sobre tema tão complexo como é o caso da reforma da Previdência; 3ª) Ao citar o estatuto do PT e defender que esse deve ser rigorosamente seguido, o companheiro certamente deve ter-se esquecido de que está inadimplente no que diz respeito à contribuição estatutária desde janeiro de 2002. Portanto, a fim de tentar impedir que ocorram novos mal-entendidos dessa natureza, apelo para que todas as críticas de petistas a petistas continuem a ser feitas nas instâncias partidárias de seus respectivos fóruns de debates."
Celso José Leite Filho, presidente da Comissão Executiva Municipal do PT (Pedreira, SP)

Desnecessário
"Refiro-me à carta do senhor Máximo Ruiz ("Painel do Leitor", 30/4). Não tenho ligação nenhuma com o PT, mas não vejo a mínima necessidade de o partido criar um "Erramos", já que o antigo governo -que não foi um modelo de humildade- jamais cogitou a abertura de tal espaço. Quanto ao "desmoronamento de coerência e credibilidade", tanto as pesquisas das opiniões internas como os comentários de analistas internacionais demonstram o contrário."
Venusto C. Francisco Lopez (Brasília, DF)


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