|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Herói ou mártir?
RIO DE JANEIRO - Impressionantes as fotos da agonia de Che Guevara,
trucidado barbaramente em 1967 pela turma da "inteligência" do Estado
Maior boliviano.
Sempre duvidei da capacidade dos
militares da Bolívia em descobrir onde estava o Che, um guerrilheiro escolado, procurado por todos os serviços secretos do mundo, inclusive o
mundo comunista. Conseguia escapar de todas as arapucas que lhe armavam.
A teoria de que ele foi traído por ex-companheiros tem um bafio conspiratório. Nunca se chegará a uma conclusão definitiva. Fica apenas como
hipótese que a história incorporará a
outras hipóteses até hoje não comprovadas. As fotos agora reveladas,
em escala mundial, desmentem categoricamente a versão de que Che
Guevara morreu em combate, reagindo aos militares que o tocaiaram.
Ele foi mesmo assassinado a frio,
seus algozes nada tinham a obter dele a não ser o seu cadáver. Cortaram-lhe as mãos para tirar as impressões
digitais que poderiam ser conseguidas sem a mutilação de seu corpo. Foi
um ato de barbárie sem qualquer nenhuma para a história ou para a
ciência.
Digo "ciência" porque Che Guevara era considerado uma espécie de
Lampião ideológico e universal. Ao
exterminarem o bando do capitão
Virgulino, os corpos dos seus seguidores foram levados aos laboratórios
para serem estudados. Che Guevara
vivo ou morto não precisava nem
precisa ser estudado. Ele foi um guerrilheiro transparente. Em nenhum
momento duvidou de sua missão libertária. Não era político. Se o fosse,
teria continuado com Fidel Castro,
recebendo ordens da então União Soviética, que evitava fazer marola naquele estágio da Guerra Fria.
Não ambicionava o poder, que ele
tentava conquistar para transferir a
outros que promovessem a justiça social pela qual ele lutava e pela qual
morreria.
Um exemplo único de contestador
dos valores vigentes. Não acreditava
em discursos, mas em ação, desde
que não fosse em proveito próprio.
Resumindo tudo: mais um mártir
do que um herói.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Déficit de candidatos Próximo Texto: João Sayad: Bin Laden Índice
|