São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Herói ou mártir?

RIO DE JANEIRO - Impressionantes as fotos da agonia de Che Guevara, trucidado barbaramente em 1967 pela turma da "inteligência" do Estado Maior boliviano.
Sempre duvidei da capacidade dos militares da Bolívia em descobrir onde estava o Che, um guerrilheiro escolado, procurado por todos os serviços secretos do mundo, inclusive o mundo comunista. Conseguia escapar de todas as arapucas que lhe armavam.
A teoria de que ele foi traído por ex-companheiros tem um bafio conspiratório. Nunca se chegará a uma conclusão definitiva. Fica apenas como hipótese que a história incorporará a outras hipóteses até hoje não comprovadas. As fotos agora reveladas, em escala mundial, desmentem categoricamente a versão de que Che Guevara morreu em combate, reagindo aos militares que o tocaiaram.
Ele foi mesmo assassinado a frio, seus algozes nada tinham a obter dele a não ser o seu cadáver. Cortaram-lhe as mãos para tirar as impressões digitais que poderiam ser conseguidas sem a mutilação de seu corpo. Foi um ato de barbárie sem qualquer nenhuma para a história ou para a ciência.
Digo "ciência" porque Che Guevara era considerado uma espécie de Lampião ideológico e universal. Ao exterminarem o bando do capitão Virgulino, os corpos dos seus seguidores foram levados aos laboratórios para serem estudados. Che Guevara vivo ou morto não precisava nem precisa ser estudado. Ele foi um guerrilheiro transparente. Em nenhum momento duvidou de sua missão libertária. Não era político. Se o fosse, teria continuado com Fidel Castro, recebendo ordens da então União Soviética, que evitava fazer marola naquele estágio da Guerra Fria.
Não ambicionava o poder, que ele tentava conquistar para transferir a outros que promovessem a justiça social pela qual ele lutava e pela qual morreria.
Um exemplo único de contestador dos valores vigentes. Não acreditava em discursos, mas em ação, desde que não fosse em proveito próprio.
Resumindo tudo: mais um mártir do que um herói.


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