São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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Perda de tempo

NÃO FOI das mais inteligentes a explicação do coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia para o baixo desempenho dos alunos da instituição.
O fiasco da universidade baiana no Enade, exame nacional do Ministério da Educação para o ensino superior, tem uma causa bastante clara, segundo o professor Antônio Dantas. Trata-se do baixo QI dos baianos. O fenômeno teria raízes hereditárias, segundo a autoridade acadêmica, e seria verificável facilmente por quem convive com pessoas originárias da Boa Terra.
"O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais cordas, não conseguiria", especulou Antônio Dantas, que por sinal é baiano também.
O tom jocoso de suas considerações não renega a fama de bom-humor desabusado que costuma cercar os conterrâneos de Dorival Caymmi. Mas soa bastante desafinado ao partir de alguém supostamente imbuído de zelar pela qualidade do curso de medicina numa das mais tradicionais universidades do país.
Os resultados do curso de medicina que Dantas coordena notabilizam-se pela insistência em uma nota só: a nota 2, num gradiente que vai de 1 a 5. Outras 16 faculdades, além da baiana, serão agora monitoradas pelo MEC, por terem obtido conceitos 1 ou 2 no Enade e no IDD, o indicador que mede o conhecimento agregado pelos cursos aos estudantes ao longo do tempo.
Essas faculdades poderão ser punidas com o corte de vagas. Em casos extremos, prevê-se a suspensão de novos vestibulares. Medidas draconianas, mas corretas se se trata de zelar pela qualidade na formação de um profissional tão importante para a sociedade como o médico. Além disso, no caso das faculdades públicas o bom desempenho em indicadores como o Enade e o IDD deveria valer como condição para a dotação de recursos federais.
No mínimo, tais indicadores deveriam valer para avaliar a (in)competência de gestores como o coordenador de medicina da UFBA. Sua fala ilustra, se for levada a sério, flagrante desperdício de tempo: se a suposta burrice dos estudantes baianos fosse hereditária, seria difícil explicar por que dedica suas energias ao cargo; melhor seria empregá-las tocando berimbau.


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