|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Política virou negócio
SÃO PAULO - Eduardo Zaplana,
terceiro homem na hierarquia do
conservador Partido Popular espanhol, anunciou anteontem que deixa seu posto de deputado para trabalhar na Telefónica (com acento
agudo porque é a da Espanha, não a
do Brasil). Informa a respeito o jornal "El País":
"O presidente da Telefónica, César Alierta, contratou Zaplana por
seus contatos com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, o
que pode facilitar os negócios da
operadora nesse país".
Saiu assim, como se fosse absolutamente normal que um importante líder político se torne ariete de
negócios, usando seus contatos no
meio conservador europeu. Uma
espécie de multinacional da desfaçatez, no pressuposto óbvio de que
o novo governo conservador italiano será suscetível ao charme de um
ilustre conservador espanhol.
O pior é que é, sim, normal. Ou
torna-se crescentemente normal,
no mundo todo, que os políticos
usem seus cargos e/ou prestígio para negócios. Ou, mais exatamente,
para finalidades privadas em vez de
o bem público (confesso que fico
até envergonhado de falar em bem
público nesse contexto; mais que
ingênuo, me sinto um cretino).
Nem preciso falar do Brasil. No
fundo, no fundo, a mais recente
operação da Polícia Federal, que
pegou deputados e funcionários
públicos beneficiando-se de contatos para levar comissão em negócios com o BNDES, revela a mesma
gênese do caso Zaplana, ainda que
haja possíveis ilegalidades naquele
e não neste.
Não é à toa que, na Itália, um livro
recente trate o mundo político como "casta", um clubão a serviço dele próprio. Como diz Tito Boeri, colunista de "La Stampa", "a política
se tornou mais que nunca auto-referente. O fato é que os políticos italianos não só custam muito, mas
rendem muito pouco".
Você aí diria alguma coisa diferente dos políticos brasileiros?
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Perda de tempo
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O berimbau do doutor Índice
|