São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Política virou negócio

SÃO PAULO - Eduardo Zaplana, terceiro homem na hierarquia do conservador Partido Popular espanhol, anunciou anteontem que deixa seu posto de deputado para trabalhar na Telefónica (com acento agudo porque é a da Espanha, não a do Brasil). Informa a respeito o jornal "El País": "O presidente da Telefónica, César Alierta, contratou Zaplana por seus contatos com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, o que pode facilitar os negócios da operadora nesse país".
Saiu assim, como se fosse absolutamente normal que um importante líder político se torne ariete de negócios, usando seus contatos no meio conservador europeu. Uma espécie de multinacional da desfaçatez, no pressuposto óbvio de que o novo governo conservador italiano será suscetível ao charme de um ilustre conservador espanhol.
O pior é que é, sim, normal. Ou torna-se crescentemente normal, no mundo todo, que os políticos usem seus cargos e/ou prestígio para negócios. Ou, mais exatamente, para finalidades privadas em vez de o bem público (confesso que fico até envergonhado de falar em bem público nesse contexto; mais que ingênuo, me sinto um cretino).
Nem preciso falar do Brasil. No fundo, no fundo, a mais recente operação da Polícia Federal, que pegou deputados e funcionários públicos beneficiando-se de contatos para levar comissão em negócios com o BNDES, revela a mesma gênese do caso Zaplana, ainda que haja possíveis ilegalidades naquele e não neste.
Não é à toa que, na Itália, um livro recente trate o mundo político como "casta", um clubão a serviço dele próprio. Como diz Tito Boeri, colunista de "La Stampa", "a política se tornou mais que nunca auto-referente. O fato é que os políticos italianos não só custam muito, mas rendem muito pouco".
Você aí diria alguma coisa diferente dos políticos brasileiros?


crossi@uol.com.br

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