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FERNANDO RODRIGUES
Ideologia zero
BRASÍLIA - Está aberta a temporada de leilão dos tempos de TV e de
rádio no horário eleitoral. O partido
mais cobiçado do momento é o PP
(ex-Arena, ex-PDS). É a legenda
que sustentou a ditadura militar
(1964-1985) e hoje abriga Francisco
Dornelles e Paulo Maluf.
Quando começar a propaganda
para presidente, o PP terá perto de
um minuto e meio na TV e outro
tanto equivalente no rádio durante
os blocos mais longos. Além disso,
poderá veicular cerca de três comerciais diários de 30 segundos cada. Esses spots, como se diz no jargão da publicidade, são um canhão.
Passam em todas as emissoras de
TV e rádio do país ao longo de 45
dias, sem interrupção.
Nem Casas Bahia ou Petrobras
têm tantos comerciais assim. Vale
ouro esse benefício. Ocorre que várias legendas não terão candidato a
presidente. O Brasil tem 27 agremiações e bem menos de 15 vão se
aventurar na corrida ao Planalto.
No caso do PP, o episódio tem
uma peculiaridade. A sigla é hoje
aliada do governo Lula no plano federal. Comanda o Ministério das
Cidades. Ainda assim, seus dirigentes saem por aí afirmando terem
dúvida sobre se apoiam Dilma
Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB)
para presidente. Por que um partido estaria dentro de um governo e
apoiaria o candidato de oposição?
Simples: para obter vantagens.
Não há ideologia envolvida nesse
processo. É só um escambo de caráter utilitário. Primeiro, o PP verificará se elegerá mais deputados, senadores e governadores apoiando o
candidato a presidente do PT ou o
do PSDB. Em seguida, avaliará qual
dos dois tem mais chance de vitória.
Por fim, dará seu apoio jurando fidelidade ao escolhido -que receberá os preciosos minutos na TV.
Esse horário eleitoral custa dinheiro. As emissoras têm compensação fiscal para ceder o tempo aos
políticos. Quem paga, portanto, é o
eleitor. Mas quem faz a festa da
ideologia zero são os partidos.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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